Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ilustrada - em cima da hora

Paulista 'picha' curador da Bienal de Berlim

Cripta Djan, o mesmo que pintou vazio da Bienal em 2010, diz que jogou tinta no organizador após levar balde d'água

Convidados da mostra, que tem como tema a perda do medo, picharam igreja onde haveria workshop

Miguel Ferraz
Artur Zmijewski, curador da Bienal de Berlim, após ser 'pichado' por Cripta
Artur Zmijewski, curador da Bienal de Berlim, após ser 'pichado' por Cripta

JOÃO WAINER
EDITOR DE IMAGEM

Convidados da Bienal de Berlim, aberta no fim de abril, pichadores brasileiros se envolveram numa confusão com os organizadores que teve como saldo a "pichação" do curador da mostra, o artista polonês Artur Zmijewski.

Em meio a uma discussão depois que os brasileiros picharam uma igreja na qual dariam um workshop, Djan Ivson, ou Cripta Djan, 26, o mesmo que pichou o espaço vazio da Bienal de 2010 em São Paulo, esguichou tinta amarela em Zmijewski.

Segundo Cripta, foi uma reação a um balde d'água suja atirado pelo curador.

Caracterizada pela ousadia curatorial, a bienal berlinense tem como título de sua sétima edição "Forget Fear" (esqueça o medo).

Parte da programação da bienal, o workshop dos pichadores brasileiros ocorreria no último sábado na igreja de Santa Elizabeth.

De acordo com o relato de Cripta, que estava acompanhado de outros três colegas do movimento "Pixação" (Biscoito, William e R.C.), o grupo chegou disposto a demonstrar seu trabalho, mas não no formato didático tradicional de um workshop.

"Não tem como dar workshop de pichação, porque pichação só acontece pela transgressão e no contexto da rua", disse Cripta à Folha, por telefone.

Os convidados passaram a escalar o prédio da igreja e a pichar. Segundo Cripta, os organizadores se desesperaram com a atitude e disseram que eles não estavam autorizados a mexer naqueles lugares.

"Assim que é bom. Se não é pra pichar, nós vamos pichar. Não adianta querer controlar o incontrolável."

Começou um bate-boca entre os brasileiros e a organização. Foi quando, ainda segundo Cripta, o curador lhe atirou a água, e ele devolveu com a tinta amarela.

"O curador, que se diz um cara revolucionário, levou para o lado pessoal. É uma bienal política, que critica o sistema, mas tiveram que recorrer ao sistema para nos parar", disse Cripta.

O pichador conta que, em seguida, Zmijewski também atirou tinta nele. Cripta então disse ter pensado: "Você quer guerra da tinta, então vamos pichar a igreja inteira".

E os brasileiros passaram a escalar, desta vez de forma incontrolável, toda a igreja.

O curador chamou a polícia. De acordo com o brasileiro, os policiais quiseram prender o grupo, mas, ainda segundo Cripta, recuou após intervenções do público e de explicações de que eram convidados da Bienal.

Então os policiais, afirma Cripta, anotaram os números dos passaportes e saíram.

Ontem os pichadores brasileiros permaneciam na capital alemã e fariam novas ações com um grupo de alemães que conheceram.

A bienal, que vai até o dia 1º/7, busca escancarar os conflitos da sociedade de hoje. Segundo o curador, em entrevista recente à Folha, a sua função é "negociar posições políticas conflitantes que visavam ações artísticas".

"Eles nos convidaram porque queriam conhecer nossa 'pixação'. Pronto, conheceram", disse Cripta.

Procurada ontem para dar a sua versão do episódio, a curadoria da Bienal não se manifestou até o fechamento desta edição.

Colaboraram FABIO VICTOR e MELINA CARDOSO, de São Paulo, e FABIO CYPRIANO, crítico da Folha

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.