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Rio+20

'Vontade política mundial diminui e urgência cresce'

O ex-secretário da Eco-92 e grande 'costurador' de acordos não crê em sucesso

Crise ambiental é mais evidente, mas contexto geopolítico é desfavorável, diz Maurice Strong

ANDREA VIALLI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Apesar da retórica sobre os temas ambientais ter ganhado o mundo nos últimos 20 anos, na prática os governos avançaram pouco na implementação dos compromissos assumidos na Eco-92. O cenário de inércia causado pela crise econômica nos países ricos deve enfraquecer o resultado da Rio+20.

A avaliação é do canadense Maurice Strong, uma das peças fundamentais para o sucesso da Eco-92.

Ex-secretário-geral da conferência, ele trabalhou exaustivamente junto com o governo brasileiro para trazer as lideranças políticas da época. Também ajudou a costurar os acordos que surgiram da cúpula, como as convenções do clima e da biodiversidade.

"Evoluímos pouco desde a Eco-92. A situação agora é bem menos favorável à tomada de grandes decisões, embora os indicadores de que estamos vivendo uma crise ambiental estejam mais claros agora", diz.

Hoje com 83 anos, Strong é professor da Universidade de Pequim e consultor. Ele virá à Rio+20 para participar dos Diálogos do Desenvolvimento Sustentável, série de debates que o governo brasileiro promoverá entre os dias 16 e 19 deste mês.

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Quais são suas expectativas para a Rio+20?
Maurice Strong - A situação é muito diferente de 1992 e bem menos favorável à tomada de grandes decisões. Há menos apoio político para as questões de meio ambiente e desenvolvimento do que há 20 anos. A maior parte dos países está preocupada com suas próprias crises econômicas. Ao mesmo tempo, a necessidade de tomar decisões é muito mais urgente do que há 20 anos, pois os indicadores de que estamos vivendo uma crise ambiental estão mais claros hoje.

O sr. trabalhou ativamente na preparação da Eco-92. Qual foi o legado?
A Eco-92 deu ao mundo as convenções do clima e da biodiversidade, a Agenda 21, a Declaração do Rio. Na época, foram negociações duras, mas no final do encontro os governos se comprometeram a se posicionar nessas questões. Infelizmente, a maior parte dos compromissos acordados em 1992 ainda não foi implementada. Evoluímos pouco.

O sr. crê que a Rio+20 produzirá outros acordos de peso?
Não será desta vez que o mundo vai produzir novos acordos e convenções como fizemos em 1992. Não podemos esperar nada com peso político. A Rio+20 atrairá milhares de pessoas e vai chamar a atenção do mundo todo, mas questões de ordem política e econômica vão dificultar maiores progressos.

O que mais dificulta as negociações?
O impasse é no contexto geopolítico. Os países ricos já não são ricos como há 20 anos, estão mais preocupados em resolver suas próprias crises e não querem mais financiar os pobres. Os países emergentes têm dinheiro, são economias pujantes -veja o Brasil, a China, a Índia-, mas eles ainda estão se desenvolvendo e muitos não querem abrir mão de seu crescimento econômico. Além do mais, não se pode querer que os emergentes desempenhem o papel dos ricos nessa transição.

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