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Ilustrada - em cima da hora

Visões distintas de brasilidade atravessam passarela da SPFW

Adriana Degreas investiga ecos africanos; Forum vai de cartões-postais

VIVIAN WHITEMAN
PEDRO DINIZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A brasilidade é tendência. Ontem, nos desfiles de Adriana Degreas e Forum na São Paulo Fashion Week, a tão buscada e controversa identidade brasileira foi o foco.

Degreas abriu seu desfile com "Navio Negreiro", na voz de Maria Bethânia. O tema são as raízes da cultura afro-brasileira, passando pela Bahia. Herança que se manifesta nas chamadas joias de crioula: peças de ouro que as escravas juntavam com pedras, cristais e balangandãs.

Esses artefatos eram adquiridos com pequenos trabalhos e, ao longo dos anos, constituíam um "pé-de-meia" para as escravas da cidade (que viviam em casas urbanas e tinham alguns "benefícios", como permissão para vender alimentos nas ruas). Muitas vezes, elas conseguiam comprar sua alforria com os objetos acumulados.

Na passarela da estilista, dedicada ao público AAA, o estilo das escravas é incorporado pelas damas, e vice-versa. Os cristais e berloques aparecem em acessórios e enfeitando biquínis. O metal dos grilhões se confunde com os ornamentos de ouro. As moças finas balançam seus penduricalhos em xales azuis de Iemanjá.

Por outro lado, as escravas cobiçavam um item muito específico do vestuário das damas: as roupas de baixo. E essas roupas de baixo, como as anáguas brancas e leves, viravam peças para ser mostradas a céu aberto. Degreas extrapola o beachwear e investe em vestidos rendados e vazados e em outros que lembram os trajes tradicionais das baianas.

O desfile também tem ótimas lingeries, meio francesinha frufru, meio Gabriela moleca. Uma coleção rica e cheia de pequenas sacadas interessantes, sobre um tema que ainda merece ser explorado além dos clichês preguiçosos.

A Forum assumiu o estilo "cartão-postal" e acertou numa coleção sem grandes invenções, porém muito bem formatada.

A estilista Marta Ciribelli buscou nas últimas temporadas europeias as formas de jaquetas de verão, conjuntinhos e terninhos para os dias quentes. Explorou tendências já bem rodadas, como as texturas metalizadas.

Porém, mandou bem ao estampar tudo isso com frutas e pontos turísticos brasileiros. É uma ideia superficial de brasilidade, é claro, mas que, nas roupas, aparece em estampas vistosas e não deixa de ter um toque de ironia e inteligência comercial.

O top ilustrador Filipe Jardim desenhou a estamparia, que retrata endereços como o Elevador Lacerda (BA) e o parque de Inhotim (MG), além de frutas tropicais.

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