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Revista dedicada à maconha incentiva o cultivo caseiro

Recém-lançada, 'semSemente', primeira publicação do gênero no país, defende a regulamentação da erva

Cultivo caseiro inibiria o tráfico, afirmam criadores da revista; conduta é crime, sujeito a penas alternativas

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

A "cultura canábica" -o universo em torno do consumo e do cultivo caseiro da maconha-acaba de ganhar um veículo para se expressar no Brasil. Com 10 mil exemplares, periodicidade bimestral e 64 páginas, chegou às bancas neste mês a "semSemente", primeira revista especializada em maconha no país.

Os editores, Matias Maxx, 31, e Wiliam Lantelme, 36, são os primeiros organizadores da Marcha da Maconha, realizada desde 2007.

A previsão era que o título chegasse às bancas há um mês, na marcha do Rio, mas a gráfica que iria imprimir os exemplares desistiu, temendo problemas com a Justiça.

Além do debate político, a revista traz reportagens sobre o cultivo caseiro da droga, HQs, receitas com a erva e eventos como a Copa Canábica, em que cultivadores apresentaram suas extrações, em local secreto em SP, em maio.

"O projeto é antigo. A certeza de que a publicação vingaria sempre conflitou com a paranoia da repressão imediata", diz Maxx. A decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de 2011, excluindo a interpretação que via apologia em atos como a Marcha da Maconha, abriu o caminho.

A mais tradicional publicação do gênero é a "High Times", dos EUA, criada em 1974. Há também revistas na Argentina e no Chile.

As duas grandes bandeiras da "semSemente" são a regulamentação da maconha e o incentivo ao cultivo caseiro, de preferência com hidroponia (com água e sem terra).

Pela argumentação, o cultivo caseiro inibiria o tráfico e ainda proporcionaria uma melhor qualidade da erva.

"O fumo que se compra nas ruas hoje (...) é mal cultivado e cheio de impurezas. Tem amônia e outras substâncias", diz Lantelme, que fuma 30 gramas por semana (ou cerca de 50 cigarros).

DEBATE

Hoje, o porte e plantio para uso pessoal é passível de penas alternativas. Prisão, não mais. Porém a conduta ainda é considerada crime.

A comissão de juristas do Senado que debate a reforma do direito penal apresentou em maio uma proposta de descriminalizar o usuário.

A autora da proposta, a defensora pública Juliana Belloque, afirma que se baseou em uma tendência mundial e na necessidade de reduzir o número de prisões de usuários por tráfico. "Mas descriminalizar o uso não significa regulamentar. Estamos propondo um passo mais tímido."

Para o jurista Ives Gandra Martins, permitir a descriminalização ou iniciativas como a revista e a Marcha da Maconha é um equívoco. "Não é incentivando o uso indiscriminado que vamos combater o tráfico. E quanto ao argumento da liberdade de expressão, penso diferente. A democracia consiste em gerar responsabilidade social antes de mais nada."

Em 2008, pesquisa do Datafolha mostrou que 76% são contra legalizar a maconha.

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