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 10ª Festa Literária Internacional de Paraty

'Busco que ninguém repare na linguagem', diz Jonathan Franzen

Autor de "Liberdade", romancista americano fez elogio de literatura transparente, sem metáforas

Escritor lembrou ainda amizade com David Foster Wallace e contou estar lendo brasileiros como Milton Hatoum

DA ENVIADA ESPECIAL A PARATY (RJ)

"Acordei às seis da manhã e comecei a ficar um pouco bobo", disse Jonathan Franzen, 52, o grande romancista americano, ao começar a responder às perguntas do público na Tenda dos Autores, na noite de ontem, na Flip.

Questionado sobre o que quis dizer em ensaio no qual falava sobre fazer uma literatura transparente, ameaçou formular uma resposta com "raios cósmicos" e "partículas alfa", interrompeu-se e começou a rir sozinho.

"Desculpem, vou responder", disse. "O que busco é que ninguém repare na linguagem ao ler meus livros. Que ninguém fique analisando 'isso é uma metáfora, isso é uma frase formulada para passar tal impressão'."

Conhecido pelo resgate do romanção realista -o mais recente, "Liberdade" (Companhia das Letras), garantiu a ele a capa da revista "Time"-, Franzen veste um personagem ao falar em público, gozador, careteiro, cheio de pausas reflexivas e constatações autoirônicas.

Como na tarde anterior, quando respondeu a perguntas de jornalistas, deixou claro que já tinha ouvido todas aquelas perguntas antes, mas mesmo assim deu respostas a todas, gentil.

Questionado pelo mediador, Ángel Gurría-Quintana, se "Liberdade" era uma resposta ao 11 de Setembro, disse que o 11 de Setembro não foi um atentado terrorista, mas um "atentado da mídia e da política baseado em um atentado terrorista".

"Eles tentaram enfiar na nossa cabeça a ideia de que os EUA tinham mudado para sempre. Demorei tanto para escrever esse livro que tinha a esperança de que ninguém fosse me perguntar isso, mas eu não podia andar na rua sem que me perguntassem."

AMIZADE

O escritor também dedicou boa parte de suas respostas à amizade e às diferenças que tinha com o norte-americano David Foster Wallace, romancista que cometeu suicídio em 2008, aos 46 anos.

"Éramos meio como irmãos, e irmãos se amam, mas também querem matar um ao outro. Eu via todos os estudos acadêmicos da literatura dele e pensava.

"Por que não há departamentos inteiros de estudos de Franzen?' E me sentia mal. Do lado dele, ele dizia: 'O Franzen ganhou muito dinheiro de adiantamento para o próximo livro, será que eu deveria pedir também? E se sentia mal."

Franzen disse que lamenta o fato de o romance não ser mais uma forma dominante na cultura.

"Sinto que a palavra entretenimento não tem em português a mesma conotação que em inglês. Ela acrescenta outras coisas e se torna negativa. O romance tem esse objetivo de entreter.

"Vivemos num mundo cheio de distrações, então precisamos de uma literatura que atraia." Mas também fez ressalvas à literatura que frequenta as listas de mais vendidos. "Há muitos romances sendo escritos. As pessoas fazem carreira com isso", disse.

CHICO E MILTON

"Estranhamente, embora eu venda muito, sinto que culturalmente estou do outro lado, do lado dos caras que não vendem nada."

Disse que anda lendo Bernardo Carvalho, Chico Buarque e Milton Hatoum, e pediu dicas de escritoras brasileiras, "para não dizerem que só leio homens".

Ao final, explicou que acordou tão cedo, às 6h, para observar pássaros. "Essa é uma das regiões mais interessantes do planeta para se observar pássaros, e as pessoas nem sabem disso".

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