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Em nome da filha, pai faz peregrinação a Congonhas

Empresário visita local do acidente da TAM ao menos uma vez por semana

Ele se mudou do RS para perto do aeroporto por causa da tragédia; jovem foi uma das 199 vítimas do voo JJ 3054

RICARDO BUNDUKY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Da entrada do aeroporto de Congonhas são 500 metros até o balcão da TAM. Pelo caminho, Beto Silva, 56, cumprimenta as pessoas. Gente que ele conheceu ao longo dos últimos anos.

Fica de olho nos monitores, que anunciam, a partir das 17h40, a chegada de um voo vindo de Porto Alegre. Esse voo tem um significado especial para Silva. Era nele que a filha mais velha, Madalena, comissária da TAM de apenas 20 anos, viajou para São Paulo há cinco anos. No dia 17 de julho de 2007, Madalena e outras 198 pessoas morreram no acidente do voo JJ 3054 -hoje, rebatizado de JJ 3046.

Um ano e meio depois da tragédia, Silva se mudou da cidade de Dois Irmãos (RS), onde morava, para São Paulo. Veio com a mulher e a filha mais jovem. Eles vivem a cerca de quatro quadras do local do acidente. Desde então, ao menos uma vez por semana, o empresário repete um trajeto: no começo da tarde, sai de casa rumo ao aeroporto. Sempre para no local onde o avião explodiu e que, na próxima terça, irá ganhar um memorial em homenagem às 199 vítimas.

"Continuarei até meu último dia se for preciso. Quero ficar perto do que ela mais amava", diz, se referindo ao amor da filha pela aviação.

Foi no aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, que pai e filha se viram pela última vez. "Quando ela passou da área de embarque, fez um coração [com as mãos] e me jogou um beijo", lembra.

"Mana [como o pai chamava e ainda chama a filha mais velha] era a nossa artista."

Normalmente às terças (dia do acidente), ele abre o guarda-roupa de casa, escolhe uma das 32 camisetas, seu uniforme de trajeto. Uma delas exibe a seguinte frase: "Amor de nossas vidas, nossa estrela que brilha no céu".

Um mês depois do acidente, o empresário se submeteu a dois anos de terapia, associada ao uso de medicamentos para dormir. A filha mais nova, Soélen, 21, enfrentou uma síndrome de ansiedade.

"As duas eram muito próximas. Mana e Maninha."

Da janela do quarto, na zona sul de São Paulo, o empresário vê o aeroporto. No pequeno imóvel, aeronaves de brinquedo decoram as prateleiras da sala. Mas são os murais de fotos de Madalena, espalhados pela casa, que chamam a atenção. No quarto de Silva e da mulher, Therezinha, um pôster da filha sorrindo, vestida de comissária, com um lenço vermelho no pescoço, cobre toda a porta.

O pai conta que ela não precisava pegar aquele voo. "Ela deveria se apresentar em Guarulhos no dia seguinte. Como o tempo estava ruim em Porto Alegre, achou que não chegaria na hora certa."

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