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Mobilidade deve ser prioridade, afirma novo presidente do IAB

Para Sérgio Magalhães, cidades brasileiras são mal desenhadas

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

O país planejou seu desenvolvimento econômico, mas esqueceu de preparar suas cidades. Resultado: metrópoles mal desenhadas que aumentam o custo de vida e desperdiçam seu potencial.

A avaliação é do presidente eleito do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), Sérgio Magalhães, 67, que assume amanhã com três bandeiras: concurso público para os prédios públicos, obras do Estado com projeto executivo e fim da expansão territorial das cidades.

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Folha - Quais são as principais bandeiras da arquitetura hoje?
Sérgio Magalhães - O Brasil não projetou seu desenvolvimento urbano. Projetou o industrial, o agronegócio... Fez das cidades instrumento para subsidiá-los. De certo modo, expulsou moradores do campo e ofereceu as cidades de modo predatório.

Por que o desenvolvimento urbano não entra na agenda?
Talvez a complexidade da cidade seja exagerada.

Quando um morador do subúrbio fica três horas no trânsito, isso não é percebido?
Não há essa demanda. Não está na imprensa. É preciso que haja demanda social, que sensibilize as decisões políticas. Precisa ter temas objetivos para canalizar um esforço geral. Por exemplo, há uma questão como a representação política da sociedade. Escolhe-se um tema: ficha limpa. Passa a ser um cavalo de batalha e evolui para uma legislação melhor.

Qual pode ser a bandeira do planejamento urbano?
A mobilidade urbana. É um acinte antidemocrático a exigência que se faz para as pessoas trabalharem, estudarem nas cidades.
No Rio, é possível melhorar a mobilidade com preços muito menores do que se divulga. Há uma rede de 200 km de trem subutilizada, que pode ser transformada em metrô por metade [do preço] da expansão da linha 1 [do metrô], atendendo a 70% da região metropolitana.
O investimento em trens e metrô do Rio, em comparação com o de São Paulo, é ínfimo.

Mas o trânsito em São Paulo não melhora.
Nos próximos tempos haverá uma possibilidade de convívio e de acessibilidade melhor. São Paulo tem uma condição de adensamento no coração metropolitano, da praça da República ao Morumbi, muito grande.
É uma questão essencial: a necessidade de cidades compactas. Se a cidade se expande, fica inviável atender a toda a população. O Brasil precisa de um desenho de cidade, em que as pessoas convivam, trabalhem em boas condições.

Arquitetos estrangeiros podem trazer novas ideias?
A arquitetura é muito inserida globalmente. O [arquiteto espanhol Santiago] Calatrava não está aqui [no Rio] para trazer novas ideias, mas porque faz parte do top da arquitetura e qualifica quem o contrata. Mas é exceção da exceção. A cidade não é só de obra-prima. É feita do comum, que precisa ter um padrão técnico-construtivo melhorado.

Concursos estimulam?
Sim. A soma de bons edifícios não necessariamente será uma boa cidade. Mas sem eles, tampouco terá. Construímos de modo ultrapassado.

Quando fazer concursos?
Todo edifício público deveria ter concurso público. É uma inserção da sociedade para que aquele lugar tenha uma vida melhor.

Uma das críticas é que esses projetos são muito caros.
A obra mais cara é a sem bom projeto. Quanto melhor, menos cara e mais adequada. Indefinição aumenta o preço.

Muitas obras públicas são licitadas com o projeto básico, com o executivo feito depois.
E feito por quem tem o interesse de fazer o que for mais conveniente. Desde a Renascença isso está separado. É feito uma determinação prévia e depois a construção.

Prédios públicos estão na Idade das Trevas?
A Idade Média não necessariamente foi das Trevas. Mas nesse aspecto sim.

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