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Paulistano declara 'amor' a shopping, irregular ou não

Frequentadores assíduos veem lugar como extensão de casa, onde usam banco, lavanderia, pet shop e mercado

Moradores temem que problemas levem a fechamento dos estabelecimentos e prometem protestar

DE SÃO PAULO

Madalena transferiu sua conta bancária para lá. Marina só corta o cabelo em um único salão. Simone e seus filhos malham naquela academia. E Ana Maria diz que passear ali é seu principal lazer.

Tão populares, que já chegaram a ser rotulados de "praia de paulista", os shoppings, que andam na mira do poder público ultimamente, são uma espécie de extensão do lar de muitos moradores. A "cidadezinha" do bairro, um lugar que não se limita a um centro de compras, mas que agrega serviços (como lavanderia, sapataria, pet shop), diversão (restaurantes, cinema, teatro, parques) e até mesmo padaria e mercado.

Como resume a administradora de empresas Marcia Kadayan, 35, o shopping, para muitos paulistanos, é uma "segunda casa".

Mas essa casa anda devendo ao poder público. Na última semana, a prefeitura divulgou que 28 dos 47 shoppings da cidade possuem alguma irregularidade, como falta de vagas nos estacionamentos, documentação incompleta, construção irregular ou problemas nas lojas.

A blitz foi feita após a Folha revelar acusação de pagamento de propina para obtenção de alvarás.

Por conta dessas irregularidades, dois deles -Higienópolis e Paulista- tiveram os alvarás cassados e podem ser lacrados até o fim do mês.

'SE FECHAR, EU CHORO'

Entre os frequentadores assíduos, é grande a preocupação de que seus "shoppings de estimação" fechem.

"Faço abaixo-assinado, protesto, tudo que puder para evitar", diz a estudante Stephanie Caroline, 18, sobre um eventual fechamento do Jardim Sul, no Morumbi. Ela diz que ali é seu principal ponto de encontro com os amigos e vai ao shopping de três a cinco vezes por semana, sempre de táxi. "Venho para fazer massagem, ver filme e até passear sem comprar nada."

"Se fechasse eu ia chorar, porque iriam tirar meu principal lazer", diz Ana Maria Di Giacomo, 66, que frequenta o Bourbon. "Sou aposentada, eu trago um livro, vejo as pessoas. Aqui é uma cidadezinha -é fundamental para mim."

"Seria uma afronta", concorda a designer de interiores Simone Peres, que vai à academia do shopping Pátio Higienópolis diariamente. E completa: "Muitos dependem daqui. Eu também".

É lá que a estudante Marina Silva, 22, faz o corte de cabelo a cada dois meses, além de ir passear semanalmente. E também é onde a corretora Madalena Colombo, 56, vai quase todos os dias, para fazer as unhas, a feira do supermercado e ir ao banco -foi ela quem transferiu a conta para a agência do shopping.

ATÉ DE PIJAMAS

Alguns não precisam de motivo especial para dar uma passada diária no shopping mais perto de casa. "Tanto é extensão da minha casa que venho aqui de pijamas", diz o produtor musical Anires Marcos, que mora a duas quadras do shopping Frei Caneca.

Outros se deslocam bem mais. O casal Humberto e Solange Guizelina sai semanalmente do Butantã, na zona oeste, para passear no shopping que frequenta há mais de 20 anos, o Center Norte. "Sei até quando as lojas mudam de balconista", diz Solange.

(FELIPE VANINI BRUNING, RICARDO BUNDUKY e CRISTINA MORENO DE CASTRO)

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