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Clandestino diz ter sido torturado em navio e jogado ao mar

Camaronês afirma que, depois de 11 dias de agressões, tripulação turca o colocou para boiar sobre pallets

Ele foi resgatado a 15 km da costa por navio que ia para o porto de Paranaguá (PR); Polícia Federal investiga o caso

ESTELITA HASS CARAZZAI
DE CURITIBA

Quando embarcou clandestinamente em um navio no porto de Camarões, há cerca de um mês, o soldador industrial desempregado Ondobo Rap Wilfred, 28, pretendia chegar à Europa. Acabou à deriva, a 15 quilômetros da costa brasileira.

Wilfred foi resgatado no dia 28 de junho por um navio que ia para o porto de Paranaguá (PR). Disse ter sido espancado e torturado por 11 dias pela tripulação e obrigado a descer do navio por uma corda, para boiar sobre um pallet (placa de madeira usada no transporte de cargas).

O caso está sendo investigado pela Polícia Federal e também pelo Ministério Público Federal, sob suspeita de racismo, tortura e tentativa de homicídio.

A tripulação do navio Seref Kuru, que está impedida de sair de Paranaguá, negou conhecer Wilfred e não fala sobre o caso nem à polícia.

Ao Ministério Público, o camaronês disse que se disfarçou de trabalhador do porto de Douala, em Camarões, para subir no navio. Escondeu-se no porão, onde o forte calor o deixou desidratado.

Quando seu estoque de água e comida acabou, Wilfred se apresentou aos 19 tripulantes do navio e diz ter sido espancado.

"Um dos agressores disse que não gostava de preto e que todos eram animais", afirma o procurador da República em Paranaguá, Alessandro Fernandes de Oliveira.

Segundo o relato, Wilfred foi deixado em uma cabine, onde era alimentado duas vezes ao dia, mas a tripulação, de origem turca, não o deixava dormir, batendo na porta.

Em 28 de junho, quando o navio se aproximava da costa brasileira, deram-lhe uma lanterna e 150 euros e o obrigaram-no a descer do navio.

Ficou 11 horas à deriva até ser resgatado. Apesar da desidratação, não precisou ser internado. Wilfred, que está sob os cuidados da agência marítima responsável pelo navio, deve ficar no Brasil durante a investigação.

FOTO

O procurador Oliveira afirma que o camaronês descreveu "com riqueza de detalhes" o interior do navio.

Para ele, a prova mais contundente da versão é uma foto encontrada na cabine em que ele diz ter permanecido. "Ele escondeu uma foto dele num vão, pensando em provar que esteve ali", diz.

A reportagem tentou contato com o responsável pela agência marítima Unimar, que não retornou as ligações.

O navio só poderá ser carregado e deixar Paranaguá quando outra tripulação for designada para a operação.

Colaborou JEAN-PHILIP STRUCK, de São Paulo

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