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Análise

Usuários veem a cracolândia como forma de escapar do olhar alheio

TANIELE RUI
ESPECIAL PARA A FOLHA

As avaliações do Ministério Público e de pesquisas mostram que a operação da polícia não trouxe melhorias para os usuários de crack.

Ao contrário, dispersou-os e afetou o trabalho da saúde. Para um usuário do crack, deixar o local onde há pessoas com quem se identifica é uma violação ainda maior.

É de notar, no caso do crack, uma convergência entre corpo e espaço. Os usuários que se destacam por uma corporalidade abjeta ocupam territorialidades abjetas.

Tomam lugares como a "cracolândia" como refúgio. Dou um exemplo: durante uma pesquisa que realizava na área encontrei Genivaldo.

Ele voltava à "cracolândia" após andar pelo centro de São Paulo, onde viu um conhecido e se escondeu.

Ao mirar seu corpo sujo, me disse: "Eu não devia ter saído, meu lugar é aqui onde todo mundo é mais ou menos como eu".

A mensagem era clara: sair da "cracolândia" implicava ter que se deparar e se confrontar com o olhar alheio. Ele não queria passar por isso.

Casos como o do Genivaldo não podem ser resolvidos (e entendidos) pela polícia. Nesse sentido, os trabalhos da área de saúde têm mais a contribuir. Que o Estado repense o papel da polícia e reconheça o direito de ir e vir. E também o de poder ficar.

TANIELE RUI é doutora em antropologia pela Unicamp e autora de tese sobre crack

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