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Análise

Fachada atraente do país encobre qualificação fraca dos brasileiros

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE “MERCADO”

O ser humano é como as massas de ar: move-se para onde a pressão é menor.

No momento, esse lugar é o Brasil para quem procura trabalho, principalmente para os jovens europeus.

Lá, a crise fez secarem os empregos. De cada 4 espanhóis economicamente ativos, 1 está sem sucesso à procura de vagas; entre os jovens, é pior: 50% fracassam.

Perto disso, o mercado brasileiro parece o paraíso. A taxa de desemprego é 5,4%: apenas 1 em cada 18 cidadãos ativos não acha ocupação.

É para comemorar?

Melhor olhar primeiro o outro lado da moeda.

Para começar, a economia brasileira só parece mais bonita porque os termos de comparação são horrendos. Na melhor das hipóteses, dizem analistas, nossa riqueza vai crescer só 2% neste ano.

A indústria patina, e um dos motivos é justamente o desemprego baixo: sobem os salários, aumentam os custos, e os preços não podem acompanhar: se o produto nacional ficasse mais caro, acabaria trocado por um importado mais barato.

Por fim, o lado mais perverso da aparente bonança: falta mão de obra qualificada. É esse um dos motivos pelos quais a criação de novas vagas vem esfriando. É também por isso que jovens estrangeiros mais escolarizados veem perspectivas por aqui.

O consolo é que a doença tem cura, desde que os governos se apressem. O Brasil atravessa o chamado bônus demográfico: mais adultos em idade produtiva que idosos e crianças. O número de estudantes vai cair, o que permite investir mais por aluno e melhorar de vez a educação básica e o ensino técnico.

Essa janela se fecha daqui a mais ou menos dez anos.

Se o Brasil não levar o caso a sério agora, o resultado será aprofundar o ciclo infeliz: menos gente qualificada, menos produtividade, mais custo, menos crescimento.

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