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Para 92% dos ginecologistas, planos dificultam exames

Operadoras interferem nos procedimentos mais caros,aponta pesquisa Datafolha

Secretário do conselho de medicina diz que a prática irregular é uma estratégia para paciente desistir do exame

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Grávida de 30 semanas, a analista financeira Thaíse Pereira da Silva, 25, teve dificuldades para marcar dois ultrassons recentemente.

Após uma confusão com a Golden Cross, que resultou na demora das autorizações do exame, ela decidiu pagar R$ 175 para fazê-los a tempo da consulta com o obstetra.

A médica Maria Rita Mesquita diz que recentemente foi obrigada a encaminhar um documento justificando um pedido de mamografia para uma paciente de 40 anos. O convênio, não informado para a reportagem, alegou que, sem isso, não autorizaria o exame.

Ela relata ainda dificuldades para conseguir internar pacientes para a colocação de DIUs (dispositivos intrauterinos) hormonais, que precisam de anestesia, e para realizar laparoscopias para diagnosticar endometriose.

Queixas assim são comuns entre ginecologistas e obstetras, mostra pesquisa Datafolha feita a pedido da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia de São Paulo).

Segundo o levantamento, 97% dos médicos dessa especialidade dizem que há algum tipo de interferência dos convênios, como o não pagamento de procedimentos, a análise de pedidos médicos por meio de auditores e a delimitação de tempo de internação pré e pós-operatória.

Para 92%, os planos dificultam a realização de procedimentos mais complexos, que costumam ter mais custo para as operadoras.

"Hoje não conseguimos que uma mãe fique mais de três dias internada após o parto. Se o bebê tem alguma complicação, ela recebe alta, mas tem que ficar o dia inteiro no hospital para amamentar sem ter acesso a um quarto", diz a obstetra Maria Rita, que é diretora da Sogesp.

Para Braúlio Luna Filho, primeiro-secretário do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de SP), a prática é irregular. "O plano não pode interferir na autonomia do médico. Dificultar os procedimentos é uma estratégia para ganhar tempo e fazer o paciente desistir do exame."

Nos principais planos, um auditor ou um sistema eletrônico analisa o pedido do médico. Se o paciente, por exemplo, não têm idade e condições médicas que justifiquem o pedido, ele é negado, ou o médico é procurado para explicar o pedido.

BAIXOS VALORES

Os médicos também reclamam da baixa remuneração dos procedimentos. Em 6 de setembro, todas as especialidades pretendem paralisar por um dia atendimentos a planos na cidade. O objetivo é fazer os planos negociarem.

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