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Reconstrução de favela em SP é feita com verba pública

Vítimas de incêndio usam R$ 4.800 da prefeitura para refazer barracos

Moradores dizem que ação foi orientada pela própria prefeitura; órgão nega e afirma que verba era para aluguel

Fabio Braga/Folhapress
Crianças brincam em construção na favela da Babilônia, no Jabaquara
Crianças brincam em construção na favela da Babilônia, no Jabaquara

DE SÃO PAULO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O barulho de marteladas ecoava pelas vielas estreitas da favela Babilônia, no Jabaquara (zona sul de São Paulo).

Parcialmente destruída por um incêndio no último 18 de agosto, a favela vem sendo reconstruída pelos moradores na mesma área onde 35 barracos foram queimados.

E essa reconstrução é financiada com dinheiro repassado pela própria prefeitura.

O local tornou-se um canteiro de obras depois que as famílias vítimas do incêndio começaram a sacar os R$ 4.800 entregues a eles pela gestão Gilberto Kassab (PSD).

Segundo os moradores, o valor foi dado pela prefeitura como um "auxílio emergencial" para que os barracos fossem refeitos ali mesmo -em uma área de risco, localizada na beira de um córrego e no final de uma viela.

"Com esse dinheiro só dá para começar [a casa]. Mas não temos opção e aceitamos", disse pedreiro José Martins dos Anjos, 39, que perdeu o imóvel de alvenaria de dois andares onde morava, com tudo dentro.

Funcionários da Secretaria de Habitação dizem que os recursos do cheque aluguel estão esgotados e não há previsão de quando essas famílias serão contempladas com um imóvel do município.

Por isso, a decisão dos administradores é de permitir a reconstrução dos barracos e, assim, evitar um maior inchaço dos programas de aluguel.

Oficialmente, a prefeitura nega que adotou uma política de permitir que os moradores reconstruam. Diz que a verba dada aos moradores da Babilônia é para o aluguel.

"Caso [a reconstrução] ocorra, deve-se a situações específicas das favelas, como incêndios em áreas internas ou periféricas, o que dificulta um controle diário da área incendiada", disse em nota.

No entanto, não foi isso que observou a reportagem da Folha na semana passada na favela Sônia Ribeiro (conhecida como Piolho).

Em plena luz do dia, e ao lado de uma rua, moradores reconstruíam seus barracos na área destruída por um incêndio no dia 3 de setembro.

A reconstrução era presenciada, sem nenhuma intervenção, por homens da Guarda Civil e da Polícia Militar e membros da Defesa Civil.

"A prefeitura não resolve o problema da habitação e as famílias acabam tendo que voltar a morar em condições precárias", afirma Mariana Fix, pesquisadora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP).

SEM AJUDA

Na Sônia Ribeiro, o fogo destruiu as casas de 285 famílias. Na última quarta-feira, nove dias depois da tragédia, elas ainda estavam na rua, abrigadas em estruturas de lona improvisadas nas calçadas. Tomavam banho em um chuveiro a céu aberto que permaneceu de pé, apesar do fogo, e cozinhavam em um barracão construído às pressas por eles mesmos.

No dia anterior, a prefeitura havia oferecido o auxílio aluguel para as famílias, que ficaram de pensar na proposta. Mas o órgão desmarcou a reunião em que ouviria a resposta das famílias. Ela foi remarcada para terça-feira.

(TALITA BEDINELLI, ROGÉRIO PAGNAN, MARÍA MARTÍN E PEDRO IVO TOMÉ)

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