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Ciclistas adotam câmeras para denunciar motoristas Rosto e placa de infrator são exibidos na web Para especialistas, prática é boa, mas não deve estimular atitudes agressivas nem tornar motoristas únicos vilões do trânsito Prática de filmar quem não respeita ciclista vem se popularizando em São Paulo; alguns já postaram 30 vídeos
DE SÃO PAULO BRUNO BENEVIDES FERNANDA KALENA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Oito ciclistas cercam um carro preto, na avenida Paulista. O motorista, que antes os tinha xingado, ao ouvir que está sendo filmado, desvia das bicicletas em alta velocidade, avança o sinal vermelho, bate numa motociclista -que cai- e foge sem parar para ver como ela está. A imagem, de 1min34s, circula pela internet, nas redes sociais. Mostra o rosto do motorista e a placa do carro. E foi feita com uma camerazinha acoplada ao capacete, que está virando moda entre os ciclistas mais militantes. Segundo o cicloativista Daniel Labadia, do Instituto CicloBR, o uso da câmera esportiva está se "massificando" entre ciclistas paulistanos há uns dois meses, quando surgiu uma segunda fabricante no país. Em outros países, é tendência há meses. "O principal objetivo é flagrar as infrações contra ciclistas", afirma. O equipamento, custa a partir de R$ 900. Especialistas advertem que a prática não pode constranger, colocar os motoristas como vilões do trânsito e nem estimular atitudes agressivas, como a de "tirar satisfações". "Querer impor a educação ao motorista é um comportamento que não leva a resultados", diz José Almeida Sobrinho, do Instituto Brasileiro de Ciências de Trânsito. A Folha viu vídeos que mostram o rosto dos condutores infratores e a placa dos carros, mas, na maioria das vezes, a imagem não vai muito além dos "raspões", vistos da perspectiva do ciclista. Em ao menos um vídeo, a imagem mostra também o ciclista cometendo infração. Ademar Gomes, presidente da Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo), acha que não há problema em filmar e colocar na internet. "Se o motorista foi o responsável pelo acidente e fez isso em público, não vejo nenhum problema. Se ele processar o ciclista, perde, porque estava nas ruas", disse. MAIS DE 30 VÍDEOS A blogueira Silvia Ballan, 40, que pedala há 25 anos, já postou 30 vídeos no YouTube, mas evita mostrar as placas -tem medo de ser identificada e agredida nas ruas. O publicitário Caio Spinola, 28, que flagrou a cena que abre este texto, carrega a câmera há oito meses, mas divulgou só aquele vídeo para, diz, ajudar a motociclista atingida. "Tenho visto mais ciclistas com a câmera. Naquele dia, tinha uns 20 usando." O estudante de medicina Rafael Darrouy, 26, de Vitória (ES), criou na internet a página "Ciclista Capixaba", onde divulgou 32 vídeos. Ele teve a ideia após ser derrubado por uma motorista, que passou o carro por cima da bicicleta. "Pensei: se eu tivesse uma câmera, poderia ter evidências para um processo." Desde então, fez com que pelo menos um respondesse a ação por direção perigosa. Quem não tem dinheiro para a câmera esportiva se vira com outras, como a fotógrafa Laura Sobenes, 25. Ela filmou com o celular um motorista que cruzou o sinal vermelho após jogar o ônibus para cima dela e dizer: "É você quem vai morrer, eu só vou assinar um BO". O vídeo teve repercussão, e o motorista acabou suspenso. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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