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Minha história - Catarina Migliorini, 20

É só um negócio

Catarinense leiloa virgindade pela internet e diz que usará dinheiro para construir casas populares

NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO

Estou nesse projeto há dois anos. Começou quando vi uma reportagem sobre um cineasta australiano que estava à procura de uma virgem. Pensei: sou virgem, vou me inscrever. Foi por impulso que eu, menininha de 18 anos, resolvi me inscrever. Achei que não receberia resposta.

Pouquinho tempo depois recebi um e-mail do produtor pedindo para conversar comigo, via Skype. Depois disso, ele pediu um teste de cena, e gravamos. E assim foi.

Quando deu certo, fiquei feliz. Eu era de uma cidade pequena em Santa Catarina, e um cineasta australiano me escolheu! Pensei: vou seguir com isso e ver onde vai dar.

E aqui estou. Vim direto para a Indonésia, há um mês, gravar o documentário. Vai relatar a minha vida e a do Alex [Stepanov], dois virgens.

Nunca fizemos sexo e estamos a ponto de fazer com uma pessoa desconhecida.

Neste momento, estou em um hotel, em Bali. É como um reality show, mas sem filmagens o dia inteiro.

Uma das partes do documentário é um leilão, na internet, em que o prêmio é a minha virgindade. Não penso muito no valor.

MENINA ROMÂNTICA

Sempre fui uma menina muito, muito romântica. Quando souberam, minhas amigas não acreditaram.

O que eu posso te dizer agora é que o leilão, para mim, é um negócio. Mas não deixei de ser romântica de forma alguma. Acredito com todas as forças no amor.

Nunca tive namorado. O meu primeiro beijo foi aos 17. Enquanto muitas meninas da minha idade tinham feito muitas coisas, não sabia o que era sexo. Hoje sei, tem os meios de comunicação, né? [ri].

O leilão termina em 15 de outubro. Depois, vamos ter uns dez dias para organizar o local e para o vencedor fazer os exames para provar que não tem nenhuma doença sexualmente transmissível.

Também vou mostrar um teste para provar que sou virgem. E aí vou ter minha primeira vez. Ela vai acontecer nos ares. A produtora vai alugar um avião particular, que vai da Austrália para os EUA.

NO CÉU

O ato será consumado no céu. Pensamos nisso para que não haja nenhum problema com a legislação dos países [prostituição não é crime em território brasileiro, mas tirar proveito dela, seja de que forma for, configura um delito].

É claro que a minha primeira vez não será filmada. Não é pornô, senão eu morreria de vergonha [ri]. O produtor vai filmar até eu entrar no avião.

O vencedor do leilão vai ter direito a ficar ao menos uma hora comigo. Mais que isso, vai depender do momento.

O comprador não pode levar outra pessoa, querer realizar fantasias, usar brinquedo sexual, nada. Também é obrigatório o uso de camisinha e só pode tirar a virgindade, nada mais. Conversar pode. Mas beijar, não. Beijar não está no contrato.

Imagino que vá ser um homem com uma idade superior à minha. Mas não fico criando expectativa. Não espero que seja um mar de rosas, mas, de repente, pode ser um cara legal, compreensivo, que pense: "Poxa, vamos com calma, a guria é virgem".

UMA VEZ

Para mim, não é prostituição. Quando alguém faz uma coisa uma vez na vida, não é considerado dessa profissão. Se você tira uma foto e sai legal, não é fotógrafo por isso.

Não vejo problema com a prostituição. É a profissão mais antiga do mundo e deveria ser legalizada. Há uma frase de um filósofo que gosto muito, o Henry Thoreau: "A opinião alheia é um fraco tirano se comparada com a nossa opinião sobre nós mesmos".

O que mais me preocupa é que a minha família sofra.

Meu pai soube nesta semana. Quando vi que iriam sair as primeiras matérias, decidi contar. A princípio, ficou meio nervoso e não gostou. Mas depois que mostrei minhas ideias, ele se acalmou.

O dinheiro vai ficar todo para mim, não com a produtora. Pretendo criar um projeto que ajude as famílias a terem seu próprio lar. Não sou hipócrita de dizer que vou usar todo o valor para isso.

Meu plano também é estudar medicina na Argentina. Já estava até matriculada, mas decidi adiar e vou em 2013. Tenho 20 anos, sou responsável pelo meu corpo e não estou prejudicando ninguém.

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