Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ilustrada - em cima da hora

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Morre aos 86 Autran Dourado, o romancista de tipos angustiados

Escritor mineiro criou obras premiadas como "Ópera dos Mortos" e "Uma Vida em Segredo"

Há dois meses em casa, autor sofria de problemas respiratórios crônicos e teve uma hemorragia estomacal

DE SÃO PAULO
DO RIO

O escritor Autran Dourado, 86, morreu na manhã de ontem, por volta das 7h30, em sua casa, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro.

A literatura do autor, nascido em Patos (MG), foi marcada por personagens angustiados. Em entrevista à Folha em 2005, contou ser parecido com suas criações: "Sofro a angústia que eles sofrem".

Em 2000, o autor recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Em 2008, recebeu da ABL (Academia Brasileira de Letras) o Machado de Assis, prêmio máximo concedido pela entidade pelo conjunto de sua obra.

Entre suas principais obras estão "Ópera dos Mortos", "A Barca dos Homens", "O Risco do Bordado", e "Gaiola Aberta".

O livro "Uma Vida em Segredo" foi adaptado para o cinema em 2001, com direção de Suzana Amaral.

Dourado, que também atuava como jornalista, morava na capital carioca desde 1954. Ele se mudou acompanhando o presidente Juscelino Kubitschek, de quem foi secretário de imprensa.

Segundo familiares, o escritor sofria de problemas respiratórios crônicos e teve uma hemorragia estomacal, que o levou a morte. Ele havia ficado internado por cerca de cinco meses para tratamento. Teve alta há dois meses e, desde então, estava em casa.

O corpo de Dourado foi velado neste domingo em capela do cemitério São João Batista, também em Botafogo, e foi sepultado às 16h.

Ele deixa a mulher, Lúcia Campos -foram casados por 60 anos-, quatro filhos, dez netos e dois bisnetos.

O filho Henrique, que saiu de Tatuí (SP) para o enterro, disse que o pai "deixa uma obra literária consistente e de qualidade, conhecida internacionalmente."

Henrique recorda de uma passagem irreverente do pai, que, brincando, fingiu que ia atropelar o escritor e amigo filósofo e escritor Jean-Paul Sartre (1905-1980) na avenida Nossa Senhora de Copacabana. Depois do susto, diz, os amigos conversaram e ficou tudo bem.

"Ele era consciente do seu trabalho, que não era de alarde, e tinha muita sensibilidade", disse à Folha o poeta Ferreira Gullar, que lembrou a geração de talentos oriundos de Minas da qual Dourado faz parte, ladeado por nomes como Otto Lara Resende e Fernando Sabino.

No enterro, a filha Inês Autran Dourado Barbosa disse que o pai era "muito afetivo e sempre muito carinhoso."

"Ele estava feliz por estar vivo. Chamava os netos de menino bom e dizia: 'A gente tem que chamar de menino bom. Vai que ele acredita'.'', contou emocionada.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.