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Análise

Organização do PCC dificulta ações de combate do governo de SP

CAMILA NUNES DIAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os documentos publicados pela Folha expõem a estrutura econômica e o lugar de destaque no cenário criminal paulista ocupado pela facção criminosa PCC, chamada pelo governo estadual de "lenda urbana".

Reunido sob o comando de uma cúpula e estruturado através de centros decisórios e operacionais regionalizados, encadeados hierarquicamente partindo de localidades específicas (bairros periféricos ou unidades prisionais) até áreas mais abrangentes de controle (divididas pelo código DDD), o PCC apresenta uma estrutura organizacional horizontal e, simultaneamente, um controle verticalizado das dinâmicas por ele engendradas.

Por sua constituição como instância de mediação de conflitos, a facção atua de forma abrangente na resolução de litígios, sobretudo (mas não só) daqueles relacionados com a economia criminal, julgando, "condenando/absolvendo" e punindo.

Baseia-se ainda num repertório ideológico que reúne a ideia da luta contra a opressão do Estado e a necessidade da união "do crime" para combater seus principais inimigos, a polícia e a administração prisional. Conjuga, assim, de forma eficiente um poderoso discurso e uma complexa dinâmica apoiada em elementos econômicos e políticos que garantem a manutenção de sua hegemonia no mundo criminal.

Hegemonia que faz do PCC o cadáver no armário do governo paulista, uma vez que expõe a fragilidade de uma política centrada no confronto violento e na intensificação do encarceramento e que, no limite, fornece o material humano e os elementos ideológicos imprescindíveis ao fortalecimento do que se pretende combater.

CAMILA NUNES DIAS é doutora em sociologia, professora da UFABC e pesquisadora do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP

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