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Barbara Gancia

Alô, Dilma! Semana da Dislexia vem aí!

Nos transtornos de aprendizagem de leitura pode estar chave para entender atraso na educação

Ninguém no Brasil vota de for­ma mais desastrada do que eu. Já votei em candidato que acabou me processando; votei em quem, eleito, me tachou de Jean-Marie Le Pen; votei em ca­marada que foi da urna para o os­tracismo e até votei em candidato que se encrencou no maior proces­so do universo de todos os tempos.

Assim como o país em que vivo, não sigo ideologia, embora me con­sidere algo coerente. Para escapar do mal maior, até em delegado tru­culento eu já votei (Erasmo, não, pelamor!).

Certa vez, ouvi o Antunes Filho dizer que, por causa da nossa Lei Eleitoral, somos obrigados a votar de forma enxadrística. E é isso que tenho procurado fazer ao longo dos anos. Rebolo desde sempre para es­capar do pior destino.

Problema é que quando você olha em retrospecto, se dá conta de que não teve capacidade para vislum­brar o sol no horizonte. Já errei feio em eleições importantes. E é por is­so que hoje sei que não posso me dar ao luxo de ser desinteressada pelo processo político.

Há algo de incapacitado mental beirando o indecente em quem re­clama e reclama e fala do país do ponto de vista de quem nasceu e vi­ve em Milão. Que é isso? Não dá pa­ra se omitir se o voto é obrigatório, né, mané? E quem anula que ao menos esteja ciente das conse­quências. Você está?

Dado o meu recado ungido de ci­vismo, posso agora proceder a um assunto que promete abater algu­mas semanas de minha estada pre­vista no purgatório.

De 8 a 14 de outubro próximos, o mundo irá celebrar a Semana da Dislexia. Pela primeira vez, o Brasil também entrará na onda. É muito interessante tudo o que está acon­tecendo e eu estou empolgadíssima com as ações envolvidas (hoje mes­mo vou fotografar -Fábio Assunção, Malu Mader, Gilberto Gil, Bernardinho, Guilhermina Guinle e Luigi Baricelli também já aderi­ram), uma vez que há três anos ve­nho me dedicando à causa.

A dislexia ainda é muito misterio­sa entre nós. Trata-se de um trans­torno que pode arruinar as chances de sucesso, mas os danos que ela causa têm como ser contornados.

Estima-se que existam no país cerca de 6 milhões de pessoas com dislexia, um transtorno de apren­dizagem de leitura que impede a al­fabetização regular em sala de aula.

Enquanto Joaõzinho e Maria estão lá aprendendo a decodificar "pato" e "ovo", Zezinho vê as letras dan­çando sobre a página e não conse­gue formar palavras. E vai ficando para trás. O professor não foi orien­tado a lidar com ele e vai deixando Zezinho de escanteio. Seus pais desconfiam de que o Zé seja burro -quando não o hostilizam e o acu­sam de preguiçoso-, e os colegas ti­ram uma da cara dele. Sua autoesti­ma sofre e muitas vezes ele acaba espirrado do ensino. Se isso ocorre em países avançados, imagine no Brasil.

Einstein, Walt Disney, Steven Spielberg, Richard Branson, Jackie Ste­wart... Um monte de gente de su­cesso é disléxica. São capazes de aprender a ler e levar uma vida pro­dutiva -a inteligência nada tem a ver com o transtorno. Mas precisam de diagnóstico e orientação.

Estudo feito anos atrás em um presídio inglês (em Liverpool) apontou que 30% dos detentos eram disléxicos, quando a preva­lência na população em geral é de 3% a 5%. Traduzindo: quando não levada a sério, a dificuldade de aprendizagem de leitura pode in­crementar a criminalidade.

Existem outros tipos de transtor­no de aprendizagem de leitura, ou­tras dificuldades na área. Mas está na cara que um assunto dessa mag­nitude, tão negligenciado, pode ser uma das chaves para en­tender porque os índices na educa­ção não sofrem alteração.

barbara@uol.com.br

AMANHÃ EM COTIDIANO
Walter Ceneviva

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