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Carnaval começa com polêmica de blocos afro

Circuito exclusivo divide entidades na Bahia

NELSON BARROS NETO
DE SALVADOR

A cidade mais negra do Brasil estreará no ano que vem um novo circuito de Carnaval exclusivo para blocos afro. A nova rota em Salvador gera polêmica e "efeito apartheid".

Chamado de "afródromo", o percurso já foi aprovado pela prefeitura e terá 2,5 quilômetros, na Cidade Baixa.

Ao afastar os participantes da orla e do centro da cidade, por onde passam as bandas mais tradicionais durante a folia, o projeto criou um racha entre as cerca de 200 entidades de matriz africana do Carnaval baiano.

De um lado, estão os seis grupos que pediram a mudança e o músico Carlinhos Brown. Do outro, os "primos pobres", menos famosos, com o apoio do Olodum.

"Isso vai confirmar uma determinação elitista, branca e predatória com relação aos maiores circuitos [Barra e Campo Grande]. Era para ter apresentação nossa até em frente ao shopping Iguatemi", diz João Jorge, presidente do Olodum.

A Unafres (União de Afoxés, Afros, Reggaes e Samba do Estado), representante de 76 blocos, chega a falar em "apartheid carnavalesco".

Enquanto blocos maiores contam com patrocínios de cervejas e bancos, os menores alegam sobreviver de doações.

Para Carlinhos Brown, a visibilidade dos participantes aumentará, já que os desfiles ocorrerão em horários mais nobres, com mais chance de aparecer na TV.

"Oitenta por cento dos hits da axé saíram da gente. Mas sempre ficamos um pouco à margem do negócio. É hora de nós próprios lidarmos com ele", disse. Brown também rebate as acusações de segregação e diz que todos os blocos afro são convidados.

O coordenador do Centro de Estudos Afro-Orientais, da UFBA (Universidade Federal de Bahia), vê a iniciativa com cautela. "No caso das cotas, havia a previsão de que gerariam mais racismo. Acho que isso ainda não ocorreu", afirma Jeferson Bacelar.

Mas pondera: "Por que só um grupo, sem os blocos menos midiáticos? Já temos um modelo de Carnaval ridículo, que discrimina a população pobre e beneficia poucos artistas e políticos".

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