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Análise

Regiões não pacificadas 'herdam' frente de batalha

ANTONIO RAFAEL BARBOSA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As UPPs são apresentadas como a ação mais significativa em termos de políticas públicas no Rio nos últimos anos.

Seu principal objetivo não é acabar com o comércio de drogas nas comunidades pobres, mas reduzir as ações de violência armada nos territórios ditos "pacificados", no que está sendo bem sucedida.

A queda de homicídios e "autos de resistência" são um exemplo; as expectativas e taxas de aprovação de comunidades com ou sem UPP, outro.

"Pacificar a própria polícia" -eis também para que serve a UPP. Uma polícia que ainda vê a razão de sua existência na "guerra ao crime", no enfrentamento armado ao "inimigo público número um", o tráfico. E que fornece, paradoxalmente, o modelo de militarização e controle territorial aos grupos que vendem drogas.

E se a polícia também é um negócio, como bem sabem as milícias, o "negócio" das UPPs é permitir o controle corporativo e estatal dos mercados informais e a regulação fundiária, embora isso tenha como efeito a "gentrificação", a "expulsão branca" dos mais pobres, o que vem ao encontro do projeto governamental de tornar a cidade "commodity".

Retorno da polícia à sua missão primordial: organizar os mercados e trabalhar no "polimento das condutas".

Mas o que acontece nas comunidades não pacificadas? Para lá migram os criminosos expulsos? Dizer isso é pouco.

Para lá se deslocam várias coisas: cracolândias, comércio varejista da droga e, sobretudo, a frente de batalha e negócios que une crime e polícia em sua dança da morte, garantindo a reprodução do combate militarizado e do jeito tradicional de se fazer polícia.

Junte-se a isso os impactos nas alianças do tráfico (com lideranças sem territórios) e nas dinâmicas criminais (com deslocamento entre modalidades da ação criminosa).

O que podemos esperar é o aumento de enfrentamentos e mortes, para sofrimento e prejuízo dos moradores das comunidades pobres. Aqueles que sempre pagam a conta ao final e que ainda esperam pelas UPPs.

ANTONIO RAFAEL BARBOSA é professor do Departamento de Antropologia da UFF (Universidade Federal Fluminense)

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