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Barbara Gancia

Justiça?

Quase chego a pensar que as coisas estavam melhores antes de o ministro Joaquim Barbosa entrar em cena

YO ME voy! Sei que a eleição está fervendo e que só faltou o Pedro Bial no debate BBB de quarta-feira. Mas, infelizmente, vou embora. Uma pena.

Como já disse aqui, adoro votar, serei uma velhinha que irá de anda­dor, maca, soro na veia ou seja co­mo for cumprir seu dever cívico.

Só que desta vez vou ter de justifi­car. Por um motivo muito aborre­cido: férias em Nova York. Perderei inclusive a conclusão do julgamen­to do mensalão, o mais momentoso evento de todos os tempos. Nem mesmo a corrida de bigas de "Ben-Hur" pode superá-lo em espetacularidade.

Os bate-bocas entre os juízes en­trarão para os anais. Revivemos Clóvis Bornay e Evandro de Castro Lima, superamos Emilinha Borba e Marlene. Nada se assemelha em intensidade ou, ouso dizer, tensão erótica ao que temos visto.

Bem, ao menos agora a nação ru­bro-negra e a torcida tricolor (refi­ro-me aos dois lados do Fla-Flu) poderão descansar e refletir sobre pormenores desprezados em meio à movimentação toda.

Durante a sempre brilhante in­tervenção da colunista Dora Kra­mer, na BandNews FM, na tarde da última quarta-feira (que é quando eu também estou no ar), uma pulga veio fustigar-me a orelha.

Dora, jornalista de grande distin­ção que, além do mais, se serve de um português impecável, come­morava o resultado do julgamento e os frutos que iremos colher. Co­memorava o fato de os trabalhos da Corte terem sido captados pela TV e ocorrido diante dos olhos da po­pulação. Lamento não reproduzir ipsis litteris, Dora se expressa que é uma "fleece" para os ouvidos. Fora que ela é uma das colunistas políti­cas mais respeitadas do país.

Mesmo assim, esta mula sem ca­beça que vos fala não entendeu di­reito. E, como naquele dia eu tinha colocado o cabresto de traz para frente, fui obrigada a intervir: "Mas, Dora, que benefício traz as­sistir ao julgamento dia após dia, se a linguagem usada no STF é tão téc­nica que um leigo não entende pata­vina do que é dito?".

Ué, fiz mal? No fim das contas, a Dora, eu e você, ninguém entende o que é dito ali. É como linguagem de sinais para surdos-mudos: a gente acha que está entendendo, que está pescando um pouquinho, mas, quando vai ver, não decifrou nadinha.

É assim o "juridiquês" usado no STF. Porém, no fim do dia, o que fica é aquela impressão de que o in­dignado relator colocou ordem no galinheiro e o mais cordato revisor não está com nada. Daí chega lá dentro dos aposentos deles e o rela­tor toma bronca dos colegas.

E nenhum de nós se lembra mais de que, lá no comecinho, a defesa teve apenas uma hora para arguir a favor de cada acusado. Uma hora contra semanas e semanas do juiz Joaquim destrinchando ponto por ponto do seu frango de um proces­so do qual não cabe recurso.

Nós não nos damos conta porque cansamos de corrupção, de mal­versação do dinheiro público. Peraí. Também cansamos de cri­me do colarinho branco, não é? Já nem me lembro mais. Confundo porque, pelo que eu ti­nha entendido, o STF ia julgar as duas coisas separadamente, mas, aos 45' do segundo tempo, embolou tudo, não foi isso?

A Dora terminou dizendo o que o Flu (ou será o Fla?) acha: que de ho­je em diante os superadvogados não vão mais poder evitar que seus clientes acabem presos.

Mas vem cá: se para isso foi preci­so promover um espetáculo de cu­nho político com esse grau de desequilíbrio, quase chego a pensar que as coisas estavam melhores antes de o Joaquim subir ao palco.

barbara@uol.com.br

COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Marcos Augusto Gonçalves; terça: Jairo Marques; quarta: Antonio Prata (férias); quinta: Pasquale Cipro Neto; sexta: Barbara Gancia; sábado: Walter Ceneviva; domingo: Danuza Leão

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