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Análise

Edifício introduziu estilo americano em um Rio francês

ALBERTO TAVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O edifício A Noite representa uma ruptura nos padrões da arquitetura e da engenharia nacionais e um marco na vida brasileira por diversos motivos que se estendem até os dias atuais.

O centro da capital da República apresentava em fins da década de 1930 uma arquitetura de prédios de até seis andares, em sua maioria sobrados remanescentes do período colonial, muitos reconstruídos com uma roupagem eclética, moda ditada pelo concurso de fachadas da avenida Central, hoje Rio Branco, a partir dos anos 10.

A construção de um prédio com 22 andares utilizando um padrão construtivo que ainda era novidade, além de sua localização privilegiada, fariam do A Noite uma atração que contrapunha o engenho humano -e brasileiro- às belezas naturais cariocas.

Rompia com a harmonia arquitetônica do conjunto de edifícios próximos -seu volume era onipresente de onde quer que fosse visto.

O edifício A Noite foi, juntamente com alguns outros como os da Cinelândia, o Guinle, e, posteriormente, o Mesbla, a ABI, os ministérios de Vargas, a Central do Brasil e os da avenida Presidente Vargas, introdutor da cidade americana em meio às cidades francesa e portuguesa que se superpunham no Rio.

Sede de um vespertino de grande circulação -o jornal "A Noite", fundado em 1911 e gênese das Organizações Globo- e depois do principal veículo de comunicação brasileiro durante cerca de 20 anos -a hoje quase mítica Rádio Nacional- para ele afluíam notícias, fatos, modas, sonhos e dramas de toda uma população, que extrapolava os limites da cidade.

Hoje, em meio às obras do Porto Maravilha, que pretende promover a reestruturação urbana local, o edifício A Noite vive a expectativa de sua restauração arquitetônica atendendo a novos usos e finalidades para permanecer, não apenas na memória, mas, atuante na vida carioca.

Que esse prédio expoente do art déco volte a reinar.

Alberto Taveira é mestre em história e teoria da arquitetura e membro do Instituto Estadual de Patrimônio Cultural do Rio

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