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Por internação à força, filha leva pai dopado para centro de saúde
No 1º dia do plantão que analisa tratamento compulsório de dependentes, parentes procuraram ajuda
Estado não divulga o total de atendimentos; para juiz, o dia foi 'histórico' para a população sem acesso à Justiça
A única forma que uma funcionária autônoma encontrou para internar seu pai, usuário de crack, foi dopá-lo. Assim, o homem, de 62 anos, entrou no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no primeiro dia do plantão judicial que analisa casos de internações compulsórias de dependentes químicos.
O plantão funciona diariamente, das 9h às 13h, com juiz, promotor e advogados designados pela OAB, no centro de saúde, na região central.
Quando a internação for recomendada por um médico e o usuário refutar o tratamento, caberá ao juiz de plantão decidir -com base em parecer do membro da Promotoria.
Segundo o governo, porém, essas internações serão exceções.
O pai da autônoma foi um dos que recebeu indicação médica para ser internado mas, como o plantão já havia terminado, a decisão sairá hoje.
A mulher, que recolheu o pai da rua dizendo que o levaria ao médico, precisou colocar um calmante num copo de suco para conseguir levá-lo.
"Ele já usa crack há dez anos, já foi internado voluntariamente duas vezes, mas quis sair. Não quero que ele morra. Não saio daqui sem a internação", dizia a filha.
Apesar desse caso, as mães à procura de internação para os filhos eram maioria ontem.
Um jovem que mordeu o pai e ameaçou fazer um roubo com a réplica de uma pistola é outro caso de internação que aguarda a Promotoria. A Secretaria de Estado da Saúde não divulgou o número total de atendimentos realizados.
Além dos dois casos que aguardam decisão, dois usuários foram internados voluntariamente e mais dois fugiram do tratamento.
'HISTÓRICO'
Mesmo sem ninguém internado à força, o juiz Samuel Karasin, que estava no plantão ontem, disse que o dia foi "histórico".
"Porque, pela primeira vez, o Judiciário volta sua atenção especificamente para pessoas que nunca foram privilegiadas, que não tinham acesso à Justiça."
Conforme o Tribunal de Justiça, antes de decidirem, os magistrados irão analisar laudos médicos e conversar com cada dependente químico.
Entre os que fugiram do tratamento estava um jovem. De passagem pela rua Prates, onde funciona o Cratod, ele parou após ver os militantes da luta antimanicomial.
Enviado para o serviço de "orientação", em uma hora, seria atendido. "Não vou aguentar", gritava.
Acabou aproveitando a comoção que tomou conta dos repórteres, recolheu R$ 6,50 (que disse serem para comprar um prato feito) e saiu.