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LUÍS NASSIF
O destruidor de famílias
Em São Paulo, a senhora A
recebe mensalmente a pensão do marido e corre imediatamente para um bingo. O dinheiro desaparece em uma tarde.
Depois, ela corre atrás de parentes, de amigos, querendo dinheiro emprestado. O vício arruinou
seu casamento e sua carreira.
Não consegue parar em nenhum trabalho. Os filhos, adolescentes, passaram a trabalhar
para ajudar no sustento da casa
e dos estudos.
A senhora B era administradora bem-sucedida, mãe de
uma filha que criava sozinha,
com dignidade. O vício em bingo a fez, primeiro, perder o
apartamento em que moravam,
depois, a carreira. A filha, quase
adolescente, passou a trabalhar
para sustentar os estudos.
Em Ribeirão Preto, a senhora
C pode ser vista diariamente no
bingo, em uma máquina de nome Turbo onde cada aperto de
botão custa R$ 10, dura dez segundos e equivale a uma rodada de bingo. Quando o dinheiro
acaba, ela dá um cheque para
descontar. Enquanto se desconta o cheque, ela pega dinheiro
emprestado com o vizinho, para
não parar o vício.
Não são cenas de ficção. Graças a essa vergonha nacional,
em milhares de lares brasileiros,
esse primeiro dia do ano será de
tristeza.
Faça-se uma pesquisa detalhada sobre os vícios que acometem a classe média nas médias e
grandes cidades. Vão se encontrar alcoólatras, cocainômanos
e nós, os viciados em trabalho.
Mas provavelmente a proporção de viciados em bingos já deve superar todo o restante, especialmente entre mulheres, donas-de-casa e pessoas de maior
idade, de todas as classes de renda.
O bingo é enquadrado na categoria de vício, doença. Existem as associações de jogadores
anônimos, assim como os alcoólicos e os narcóticos anônimos.
Por isso mesmo, havia na Constituição proibição para abertura de cassinos.
Em países em que a legalidade
se impôs sobre o crime organizado, existe a determinação de
que cassinos devem ficar em cidades turísticas de pequena população, afastados dos grandes
centros.
Aqui, por um desses episódios
de corrupção consentida, conseguiu-se driblar a Constituição,
permitindo a introdução dos
cassinos disfarçados em bingos
fincados nas grandes concentrações urbanas. O país costuma
comentar envergonhado a situação do Rio de Janeiro, a maneira como o crime organizado
tomou conta da cidade.
E o bingo? Procuradores, especialistas em crime organizado,
membros da CPI do Futebol, todos são unânimes em afirmar
que o crime organizado controla a atividade, que há evidências da presença da máfia espanhola.
E o que se faz? Ninguém assume a responsabilidade de lutar
contra essa praga urbana, com
exceção de meia dúzia de procuradores, com resultados inevitavelmente lentos, devido às suas
limitações.
A verdade é que a corrupção
do bingo incrustou-se por toda a
sociedade, em cima de alianças
com o submundo das organizações esportivas e da influência
que passaram a deter no Congresso.
Se o país pretende que 2003 seja um ano de mudanças, pode-se começar por aí, os novos governos, federal e estaduais assumirem o combate a essa forma
nefasta de vício que vem destruindo as famílias brasileiras e
envergonhando o país.
"Lei da Mordaça"
Do promotor de Justiça de Sorocaba, Jorge Marun, sobre a
"Lei da Mordaça":
"É estranho que o ministro
Flavio Bierrenbach venha defender a "Lei da Mordaça". Justo
ele que, quando político, fez
acusações de enriquecimento
ilícito contra José Serra no horário eleitoral. Quem defende a
mordaça para juízes e membros
do Ministério Público que, cumprindo seu dever, dão satisfações à sociedade sobre processos
ou investigações em andamento, deveria também ter a coragem de defender a mesma medida contra políticos que se utilizam da tribuna do parlamento,
das CPIs e do horário eleitoral
para fazer acusações, muitas vezes infundadas".
Está certo.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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