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CONTAS VIGIADAS
Segundo registros da Cid Collection, banqueiro retirou do país peças mais valiosas do acervo, no valor de US$ 5,5 mi
Edemar enviou obras mais caras, diz arquivo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O banqueiro Edemar Cid Ferreira tirou do país algumas das
obras mais caras de sua coleção de
arte. Um arquivo digital da Cid
Collection, obtido pela Folha,
mostra que dez obras compradas
por cerca de US$ 5,5 milhões
(equivalentes hoje a R$ 12,8 milhões) estão no exterior.
A mais cara dessas obras é a escultura "Woman", do artista britânico Henry Moore (1898-1986),
comprada em 3 de junho de 2003
por US$ 1,475 milhão (R$ 3,4 milhões), segundo o arquivo.
Além da escultura, o banqueiro
mantém fora do país trabalhos de
Jean-Michel Basquiat (1960-1988), Fernand Léger (1884-1955)
e Roy Lichtenstein (1923-1997).
O arquivo da Cid Collection traz
informações sobre 9.488 trabalhos de Edemar, um acervo heterodoxo que reúne desde um ladrilho do Titanic até uma escultura
romana.
O próprio Edemar reconheceu à
Justiça, em interrogatório feito
em agosto, que tem trabalhos fora
do país. Citou as obras de Moore,
Basquiat, Léger, Lichtenstein e
Anish Kapoor. A tela de Basquiat
está em Nova York, e os outros
quatro trabalhos, em Zurique, na
Suíça, segundo o banqueiro. Ele é
réu num processo em que é acusado de gestão fraudulenta, formação de quadrilha e lavagem de
dinheiro. O Banco Santos deixou
um rombo de R$ 2,2 bilhões.
Edemar incluiu na lista de obras
que estão na Suíça, de forma aparentemente equivocada, uma tela
de Francis Picabia (1879-1953)
que está em sua casa no Morumbi, zona sul de São Paulo. Reportagem de maio da Folha havia revelado que o banqueiro tinha
obras num depósito suíço.
"Não tem mais"
Ao ser interrogado pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis sobre o valor dos trabalhos, o banqueiro respondeu: "Podem valer
de US$ 100 mil a US$ 200 mil".
Mesmo sem ter sido questionado
se teria mais trabalhos no exterior, afirmou: "E acabou. Não tem
mais obra nenhuma no exterior".
Não é bem assim, como mostra
o arquivo com o livro de tombo
da Cid Collection. Edemar tem
pelo menos dez obras fora do país
-o dobro do que ele declarou ao
juiz Martin de Sanctis.
A informação de que o banqueiro tinha tirado obras de arte do
país foi revelada pela Folha em 22
de maio de 2005. Nessa reportagem, o jornal informou, após quatro meses de levantamento, que
oito trabalhos do banqueiro haviam deixado o país.
O ponto de partida do levantamento da Folha fora uma reportagem da revista "IstoÉ Gente" na
qual Edemar aparecia à frente de
uma tela de Basquiat batizada
"Hannibal". Com o seqüestro da
coleção, feita por ordem da Justiça no dia 1º de março de 2005, tornou-se possível checar as obras de
Edemar que estavam no país.
Não dá para saber se o banqueiro retirou as obras antes ou depois que o Banco Central interveio no Banco Santos, em 12 de
novembro de 2004.
A impossibilidade de se descobrir quando as obras deixaram o
país deve-se ao fato de uma parte
delas ter entrado no país sem passar pela Receita Federal.
Quatro ex-funcionários do banqueiro entrevistados pela Folha
em maio passado contaram que,
cerca de dez dias antes de o BC intervir no Banco Santos, circulou
uma lista com cerca de cem obras
que deviam deixar o país.
As mais caras
Uma pesquisa no CD em que foi
gravado o livro de tombo da Cid
Collection revela que as obras que
estão fora do país são algumas das
mais caras da coleção.
Se estão certos os preços do livro de tombo, os dez trabalhos de
Edemar que estão fora do país
custaram US$ 5.494.205. Esse valor equivale a 27,5% do preço da
coleção na hipótese de ela valer
US$ 20 milhões.
Quatro das obras que Edemar
mantém no exterior custaram
mais de US$ 500 mil: as de Moore,
Basquiat, Léger e Lichtenstein.
Com isso, só sobrou uma obra
nessa faixa de preço entre as seqüestradas. É uma escultura romana, registrada no livro de tombo com o nome de "Togatus Romanus" (Romano de Toga), comprada em 2003 por US$ 772.980.
A figura masculina em mármore, sem a cabeça e sem as mãos, é a
obra mais cara entre as seqüestradas -está na casa do banqueiro.
Entre as obras de arte contemporânea, os trabalhos mais caros
são duas telas de Robert Rauschenberg, compradas por US$
350 mil e US$ 360 mil.
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