São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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2008 deve acelerar fusões e aquisições no mundo

JOHN GAPPER
DO "NEW YORK TIMES"

Onze anos atrás, Alan Greenspan, então presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos), ponderava: "Como poderemos determinar se a exuberância irracional provocou elevação indevida nos valores dos ativos, que em seguida estarão sujeitos a contrações inesperadas e prolongadas, como as que o Japão sofreu nos últimos dez anos?".
A resposta é que não havia como fazer essa determinação, porque só o tempo responde a perguntas desse tipo. Mas agora sabemos quando a exuberância se transformou em medo, e esse é o clima que dominará muitos setores em 2008.
Pensem na atmosfera que predominava um ano atrás, nesta data. Então, a grande questão que o setor financeiro tinha a responder era: por quanto tempo a festa vai durar?
Os fundos de capital privado estavam com os caixas repletos e não encontravam dificuldade para levantar US$ 50 bilhões ou mais a fim de tomar o controle de empresas nos EUA e na Europa. Os bancos de investimento desfrutavam de receitas operacionais recordes e os de varejo estavam emprestando dinheiro generosamente a consumidores e proprietários de imóveis residenciais.
A economia norte-americana crescia com firmeza e um boom de commodities gerava riqueza para países como a Rússia e as nações do Oriente Médio. A queda nos preços dos imóveis residenciais era causa de preocupação, nos Estados Unidos, mas parecia continuar sendo um problema isolado, que não atingiria os mercados de crédito ou as outras nações.
Com a aproximação do final de 2007, os EUA viveram alguns meses de perigo elevado nos mercados, e o resto do mundo está descobrindo até que ponto podem se contagiar.
O Reino Unido está sentindo os efeitos do colapso do banco Northern Rock. Existem temores de um colapso no mercado da habitação e dos efeitos da queda da libra. O BCE (Banco Central Europeu) continua a injetar liquidez nos mercados financeiros. Só os países do Oriente Médio continuam a avançar sem problemas e, aparentemente, ainda mais rápido.
Tudo isso gera graus variáveis de incerteza e preocupação para os líderes empresariais em 2008, a depender dos setores e países que eles representem.
As empresas mais problemáticas neste ano serão os bancos, que sofrem com os prejuízos causados pelos instrumentos estruturados de investimento e com a falta de liquidez.
É possível, e até provável, que haja uma repetição da crise de liquidez que afetou o Northern Rock e forçou o governo britânico a garantir os depósitos dos correntistas do banco. Os problemas de crédito se tornaram mais visíveis em Wall Street, dada a situação de bancos como o Citigroup e o Morgan Stanley, mas nada impede que venham a surgir em outros mercados.
A falta de confiança provavelmente se expandirá para os setores cíclicos. A indústria automobilística, por exemplo, já está sofrendo. E pode se espalhar ainda mais. "Mesmo que você esteja a três graus de distância das empresas financeiras, digamos na distribuição de gás natural, haverá uma sensação de que mais cautela é necessária", disse Jack Malvey, estrategista-chefe do departamento de renda fixa do Lehman Brothers.
Incertezas e problemas representarão oportunidades, em muitos setores. Chris Zook, que comanda o setor de estratégia mundial da Bain & Co, diz que 2008 verá "aceleração significativa" do ritmo de aquisição por concorrentes de empresas mais fracas em setores vinculados às commodities, como o aço e o cimento, passando por linhas aéreas e grupos de infra-estrutura.
A corrida que fundos soberanos de investimento como os de Cingapura e dos países do golfo Pérsico travaram no final de 2007 para adquirir participações minoritárias em bancos de Wall Street deve continuar e se estender a outros setores.
O alto preço do petróleo significa que esses fundos precisam continuar comprando não só títulos do governo mas participações em empresas de capital aberto e fechado, a fim de investir os recursos que estão acumulando.
A desaceleração nos Estados Unidos está criando oportunidades. Cruzar fronteiras também será um imperativo para empresas que desejem escapar aos mercados mornos em seus países de origem.
Os investidores compreenderam que empresas norte-americanas globalmente diversificadas provavelmente terão receita superior àquelas que se concentram apenas nos Estados Unidos, como o provaram General Electric, Procter & Gamble e outras companhias.
Como resultado, as empresas norte-americanas continuarão a tentar se expandir no mercado externo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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