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MALHA FINA
Em 2002, fiscais cobraram R$ 8,7 bi em impostos atrasados do setor
Indústria passa bancos e é a mais autuada pela Receita
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A indústria, particularmente as
indústrias de bebidas, cigarros e
metal-mecânica (automóveis, implementos agrícolas), foi o setor
econômico mais autuado pela Receita Federal em 2002.
Em 2000 e em 2001 a liderança
do ranking dessa lista pertencia
ao setor financeiro (bancos, seguradoras, fundos de pensão). O aumento da cobrança sobre o setor
industrial foi de 58,18% entre 2001
e 2002. No ano passado, os fiscais
cobraram R$ 8,7 bilhões em impostos atrasados do setor contra
R$ 5,5 bilhões em 2001.
O total das autuações (o que
deixou de ser recolhido mais multas e encargos) feitas no ano passado, incluindo pessoas físicas e
as malhas (inconsistências detectadas nas declarações sobre o pagamento de tributos), chegou a
R$ 32,4 bilhões. Em 2001, o total
foi de R$ 33,5 bilhões.
Segundo o coordenador de Fiscalização da Receita Federal, Paulo Ricardo Cardoso, essa queda
ocorreu porque as empresas não
passaram pela malha da Receita.
O coordenador explicou que a
Receita preferiu esperar para fazer o trabalho neste ano quando
passará a funcionar a chamada
"malha eletrônica". Essa malha
será feita por um sistema de computação que cruzará informações
disponíveis na Receita para verificar irregularidades.
De acordo com Cardoso, cerca
de 25% das autuações do setor industrial estão relacionadas às empresas de bebidas, principalmente de cerveja, água, refrigerantes e
isotônicos.
Medidores
A principal irregularidade é a
diferença entre o faturamento informado pelas empresas e o consumo. "Neste ano, por determinação da Receita, deverão ser instalados medidores de vazão nas
cervejarias", informou o coordenador. Dessa forma, os fiscais vão
poder controlar se as empresas
estão vendendo bebidas sem nota
fiscal.
Cardoso disse que a sonegação
no setor de cigarros pode chegar a
R$ 1 bilhão por ano. Neste ano, a
Receita pretende fiscalizar cerca
de 230 mil estabelecimentos que
vendem cigarros de maneira irregular. "Fizemos convênios com os
Estados que também servirão para isso". Cerca de 30% dos cigarros vendidos no país têm origem
desconhecida.
A Folha entrou em contato com
a Confederação Nacional da Indústria para que a entidade comentasse o aumento das autuações no setor industrial, mas não
obteve informações até o fechamento dessa edição.
Setor financeiro
Sobre o setor financeiro, Cardoso disse que houve um crescimento significativo das autuações se
for levado em conta que os fundos
de pensão quitaram boa parte de
suas dívidas com a Receita no ano
passado. Em 2001, a cobrança sobre o setor foi de R$ 7,4 bilhões,
mas R$ 5 bilhões desse total eram
de responsabilidade dos fundos.
Decisões judiciais favoráveis ao
recolhimento de impostos pelos
fundos, porém, fizeram com que
essa dívida fosse reduzida.
"Houve um ganho de produtividade dos fiscais no setor financeiro porque as autuações estão
agora pulverizadas em várias instituições como bancos, cooperativas de crédito e seguradoras", disse o coordenador.
Cardoso afirmou ainda que, de
maneira geral, 40% das autuações
feitas pela Receita são de empresas sediadas em São Paulo. "No
setor financeiro esse total passa
para 70%."
Neste ano, a Receita deverá concentrar seus esforços na fiscalização dos setores agropecuário e de
construção civil.
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