|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nova regra para bancos pode restringir crédito
Instituições terão de recolher ao BC parte de leasing
SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os bancos que usam empresas de leasing para captar recursos no mercado e, com isso,
diminuir seus custos serão
obrigados a recolher ao Banco
Central parte do dinheiro arrecadado. A medida, anunciada
no início da noite de ontem pelo BC, visa acabar com uma
operação conhecida no mercado como "troca de chumbo",
muito comum atualmente e
que permitia às instituições financeiras obterem recursos
mais baratos para repassar aos
clientes, driblando as regras
impostas pelo BC.
As empresas de leasing são
parceiras ideais para essas
transações porque, ao contrário dos bancos, não estão sujeitas às normas de depósito compulsório, que retêm no BC parte do dinheiro que os bancos
obtêm dos seus clientes ou em
transações no mercado.
Por terem características diferentes dos financiamentos
tradicionais, as operações de
leasing têm um tratamento diferenciado. Os bancos, por outro lado, reclamam que os recolhimentos compulsórios elevam muito seus custos e, com
isso, o valor cobrado dos clientes nos empréstimos em geral.
Para fugir dessas despesas, as
instituições financeiras passaram a usar as empresas de leasing. Como elas não podem obter o dinheiro no mercado e repassá-lo diretamente para o
banco do mesmo grupo ao qual
pertencem, elas captavam recursos via emissão de um título
que era adquirido por outro
banco.
Depois, os recursos gastos
pelo segundo banco voltavam
para a instituição original como
depósitos interbancários e podiam ser usados para empréstimos em geral. No final de 2007,
o volume de depósitos das empresas de leasing nos bancos
chegou a R$ 160 bilhões.
Com a medida anunciada ontem, 25% desse total, cerca de
R$ 40 bilhões, ficarão retidos
no BC em títulos públicos. Isso,
na prática, reduz no mesmo
montante o volume de dinheiro
em circulação na economia, o
que tem efeito na taxa de juros
praticada no mercado.
Além disso, como a nova regra encarece a "troca de chumbo", os bancos perdem uma
fonte mais barata de recursos
para suas operações de crédito.
Com o custo mais elevado, as
instituições financeiras deverão cobrar mais dos seus clientes para liberar empréstimos.
Como o novo compulsório
não atinge diretamente as operadoras de leasing, as empresas
desse segmento que captarem
recursos e usarem diretamente
nos seus negócios não terão nenhum impacto nos seus custos.
Freio no mercado
Num momento em que o BC
se mostra cada vez mais preocupado com o ritmo de crescimento da economia - fruto,
dentre outros fatores, da forte
expansão do crédito- e seus
possíveis efeitos inflacionários,
a criação do compulsório sobre
as captações via empresas de
leasing pode ajudar a colocar
um freio no mercado.
O Banco Central evitou comentar os motivos que levaram
à decisão de ontem. Por meio
de nota, informou apenas que
"a instituição dessa modalidade de recolhimento compulsório dá tratamento isonômico a
fontes alternativas de captação" e que, com a medida, "essa
fonte de recursos ficará sujeita
à exigibilidade de recolhimento
similar à aplicada aos depósitos
a prazo".
Atualmente, os bancos já são
obrigados a recolher 23% do dinheiro que captam por meio de
CDBs (Certificados de Depósito Bancário) no BC, além de alíquotas semelhantes sobre os
saldos de contas correntes e cadernetas de poupança.
No caso das empresas de leasing, a cobrança será gradual e
começará a ser aplicada em
maio, com uma alíquota inicial
de 5%. A cobrança de todos os
25% só passará a valer a partir
de janeiro do ano que vem.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Eletricidade: Consumo de energia cresce 0,6% em janeiro Índice
|