São Paulo, sexta-feira, 01 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Setor externo preocupa indústria

Empresários consultados pela FGV vêem neste trimestre a menor demanda do exterior desde outubro de 2001

Câmbio e crise financeira contribuíram para projeção pessimista; recuo deve ser compensado pelo consumo interno, dizem empresas

TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

A crise no mercado financeiro já pode ter afetado as expectativas dos empresários para as exportações nos três primeiros meses do ano. Sondagem da Indústria de Transformação da FGV (Fundação Getulio Vargas) apontou que a previsão para a demanda externa, com relação ao trimestre anterior, é a menor desde outubro de 2001, logo após o 11 de Setembro.
A pesquisa foi feita com 1.079 empresas entre 2 e 28 de janeiro. Portanto, captou todo o estresse causado pela mais recente turbulência nas Bolsas mundiais, na semana passada.
Na série com ajuste sazonal, apenas 16,8% dos entrevistados prevêem uma demanda externa maior, e 12,1% consideram que será menor, o que resulta no saldo mais baixo desde a época dos atentados.
Analisando apenas os otimistas, os 16,8% representam o menor patamar desde outubro de 1998, quando os empresários estavam preocupados com a moratória da Rússia e a iminência do fim da paridade do real com o dólar, que aconteceria no início do ano seguinte.
"A apreensão das empresas exportadoras é grande, mas a demanda interna está compensando parte disso", avalia Aloisio Campelo, coordenador de sondagens conjunturais do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), da FGV.
O mercado local aquecido resultou no melhor índice para a previsão da demanda interna desde julho de 2004. Quase metade dos empresários (49,4%) esperam vendas superiores ao trimestre anterior, contra apenas 12,7% com perspectiva de que sejam inferiores. Esses dados garantem que a demanda global permaneça no mesmo patamar.
Os empresários que mostraram maior preocupação com a demanda externa foram dos setores têxtil, de alimentos, celulose e papel, material de transporte, mecânica e química.
Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), comenta que "ninguém sabe o tamanho do problema, mas preocupa o fato de os EUA poderem começar a importar menos". O mercado americano respondeu por R$ 400 milhões dos US$ 2,3 bilhões de vendas externas em 2007. Outros gargalos são a apreciação do real ante o dólar e a desvalorização das moedas de concorrentes diretos pela demanda mundial. Em 2007, a balança comercial teve déficit de US$ 648 milhões, contra US$ 33 milhões em 2006 e superávit em anos anteriores.
Para Amilcar Lacerda, da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), o pessimismo do setor se justifica mais pela queda no preço de commodities, como açúcar, álcool e suco de laranja, produtos que sofrem forte influência do desempenho das exportações.
Os preços, diz, vêm caindo desde o terceiro trimestre de 2007 e não há perspectiva de aumento neste início de ano. "A crise no mercado financeiro influencia menos porque alimentos são produtos básicos de consumo", esclarece. Com a suspensão das exportações de carne bovina para a União Européia, a partir de hoje, a situação fica ainda mais complicada.
Analisando o cenário atual, a pesquisa apontou que a situação dos negócios é considerada a melhor, para o mês de janeiro, desde o início da série, em abril de 1995. O nível de demanda externa está apenas 1% maior do que em janeiro de 2007, mas a interna aparece 18% superior. "Está no maior patamar para o mês desde 1987", diz Campelo.


Texto Anterior: Energia: Opep não deve elevar produção de petróleo
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.