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Setor externo preocupa indústria
Empresários consultados pela FGV vêem neste trimestre a menor demanda do exterior desde outubro de 2001
Câmbio e crise financeira contribuíram para projeção pessimista; recuo deve ser compensado pelo consumo interno, dizem empresas
TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO
A crise no mercado financeiro já pode ter afetado as expectativas dos empresários para as
exportações nos três primeiros
meses do ano. Sondagem da Indústria de Transformação da
FGV (Fundação Getulio Vargas) apontou que a previsão para a demanda externa, com relação ao trimestre anterior, é a
menor desde outubro de 2001,
logo após o 11 de Setembro.
A pesquisa foi feita com 1.079
empresas entre 2 e 28 de janeiro. Portanto, captou todo o estresse causado pela mais recente turbulência nas Bolsas mundiais, na semana passada.
Na série com ajuste sazonal,
apenas 16,8% dos entrevistados
prevêem uma demanda externa maior, e 12,1% consideram
que será menor, o que resulta
no saldo mais baixo desde a
época dos atentados.
Analisando apenas os otimistas, os 16,8% representam o
menor patamar desde outubro
de 1998, quando os empresários estavam preocupados com
a moratória da Rússia e a iminência do fim da paridade do
real com o dólar, que aconteceria no início do ano seguinte.
"A apreensão das empresas
exportadoras é grande, mas a
demanda interna está compensando parte disso", avalia Aloisio Campelo, coordenador de
sondagens conjunturais do
Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia), da FGV.
O mercado local aquecido resultou no melhor índice para a
previsão da demanda interna
desde julho de 2004. Quase
metade dos empresários
(49,4%) esperam vendas superiores ao trimestre anterior,
contra apenas 12,7% com perspectiva de que sejam inferiores.
Esses dados garantem que a demanda global permaneça no
mesmo patamar.
Os empresários que mostraram maior preocupação com a
demanda externa foram dos setores têxtil, de alimentos, celulose e papel, material de transporte, mecânica e química.
Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de
Confecção), comenta que "ninguém sabe o tamanho do problema, mas preocupa o fato de
os EUA poderem começar a importar menos". O mercado
americano respondeu por
R$ 400 milhões dos US$ 2,3 bilhões de vendas externas em
2007. Outros gargalos são a
apreciação do real ante o dólar
e a desvalorização das moedas
de concorrentes diretos pela
demanda mundial. Em 2007, a
balança comercial teve déficit
de US$ 648 milhões, contra
US$ 33 milhões em 2006 e superávit em anos anteriores.
Para Amilcar Lacerda, da
Abia (Associação Brasileira das
Indústrias de Alimentação), o
pessimismo do setor se justifica mais pela queda no preço de
commodities, como açúcar, álcool e suco de laranja, produtos
que sofrem forte influência do
desempenho das exportações.
Os preços, diz, vêm caindo
desde o terceiro trimestre de
2007 e não há perspectiva de
aumento neste início de ano. "A
crise no mercado financeiro influencia menos porque alimentos são produtos básicos de
consumo", esclarece. Com a
suspensão das exportações de
carne bovina para a União Européia, a partir de hoje, a situação fica ainda mais complicada.
Analisando o cenário atual, a
pesquisa apontou que a situação dos negócios é considerada
a melhor, para o mês de janeiro,
desde o início da série, em abril
de 1995. O nível de demanda
externa está apenas 1% maior
do que em janeiro de 2007, mas
a interna aparece 18% superior.
"Está no maior patamar para o
mês desde 1987", diz Campelo.
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