São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2009

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Crise pode se prolongar por excesso de ações

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS

Palestrantes no Fórum Econômico Mundial, que se encerra hoje nos alpes suíços, têm acusado governos de países desenvolvidos de estarem sendo "hiperativos". O excesso de iniciativas dos governos pode acabar piorando e até prolongando a crise, dizem.
Rupert Murdoch, da News Corporation, dono da Fox e do "Wall Street Journal", entre outros, abriu sua fala alfinetando o setor bancário, ao afirmar que não considera justo separar ativos tóxicos de bancos e que contribuintes paguem pelos erros de 20 anos dessas instituições.
Uma saia justa para Stephen Green, presidente do grupo HSBC, presente à mesma mesa. Green havia acabado de elogiar a ação do governo. "A resposta pública [à crise] vai no sentido correto. O importante é parar a recessão, continuar a trabalhar para passar por isso logo."
Murdoch, entretanto, disse que é importante que reguladores sejam melhores e se antecipem em suas ações. Com a ressalva de que os mercados são livres e que não se pode ignorar as diferentes culturas. "Não nos esqueçamos do que cria riqueza: são mercados abertos, capitalismo e provamos isso várias vezes no século passado."
Murdoch chamou atenção para o fato de que o governo tem muito a fazer ao enfatizar, entre outros problemas, que 35% dos estudantes não se formam no ensino médio.
Maria Ramos, principal executiva da Transnet Limited, da África do Sul, que estava sentada entre Murdoch e Green, aproveitou para dizer que "a crise não foi criada pelas economias em desenvolvimento. Temos de ter ações coordenadas e mais integradas para evitar que mais pessoas sejam jogadas na miséria".
"O que me preocupa é que as medidas implementadas são aquelas que não seriam bem-vistas em países em desenvolvimento, ainda que em crise devam existir medidas extraordinárias. Déficits fiscais estão crescendo e temos de pensar nas próximas gerações."
Stephen Green, do HSBC, ao retomar a palavra, disse que a crise "não nos cobre de glória, mas o capitalismo ainda é o melhor para crescimento e tira pessoas da miséria". Quanto à compra de ativos problemáticos e outras iniciativas dos governos, disse que "são um número de coisas diferentes para conseguir o mesmo [ultrapassar a crise o mais rápido possível]". "É necessário que o poder público assuma isso", disse.
Stephen Roach, do Morgan Stanley Asia, afirmou que as iniciativas do governo americano não interromperão o forte processo de desalavancagem, de consumidores tentando sair de suas dívidas.
"Não vamos nos iludir [de que isso vá resolver o problema da economia dos EUA]."
Um executivo japonês de uma grande empresa, que pediu para não ser identificado, opinou que, a exemplo do que ocorreu no Japão, a recapitalização de bancos americanos e europeus não será suficiente para sair da crise. Apesar do grande volume de recursos injetados na economia, em 1999, a crise se prolongou por anos. "O excesso de iniciativas do governo é arriscado porque não se pode ficar injetando muito dinheiro na economia por muito tempo. Há o problema fiscal."


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