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Crise pode se prolongar por excesso de ações
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS
Palestrantes no Fórum Econômico Mundial, que se encerra hoje nos alpes suíços, têm
acusado governos de países desenvolvidos de estarem sendo
"hiperativos". O excesso de iniciativas dos governos pode acabar piorando e até prolongando
a crise, dizem.
Rupert Murdoch, da News
Corporation, dono da Fox e do
"Wall Street Journal", entre
outros, abriu sua fala alfinetando o setor bancário, ao afirmar
que não considera justo separar ativos tóxicos de bancos e
que contribuintes paguem pelos erros de 20 anos dessas instituições.
Uma saia justa para Stephen
Green, presidente do grupo
HSBC, presente à mesma mesa.
Green havia acabado de elogiar
a ação do governo. "A resposta
pública [à crise] vai no sentido
correto. O importante é parar a
recessão, continuar a trabalhar
para passar por isso logo."
Murdoch, entretanto, disse
que é importante que reguladores sejam melhores e se antecipem em suas ações. Com a ressalva de que os mercados são livres e que não se pode ignorar
as diferentes culturas. "Não nos
esqueçamos do que cria riqueza: são mercados abertos, capitalismo e provamos isso várias
vezes no século passado."
Murdoch chamou atenção
para o fato de que o governo
tem muito a fazer ao enfatizar,
entre outros problemas, que
35% dos estudantes não se formam no ensino médio.
Maria Ramos, principal executiva da Transnet Limited, da
África do Sul, que estava sentada entre Murdoch e Green,
aproveitou para dizer que "a
crise não foi criada pelas economias em desenvolvimento.
Temos de ter ações coordenadas e mais integradas para evitar que mais pessoas sejam jogadas na miséria".
"O que me preocupa é que as
medidas implementadas são
aquelas que não seriam bem-vistas em países em desenvolvimento, ainda que em crise devam existir medidas extraordinárias. Déficits fiscais estão
crescendo e temos de pensar
nas próximas gerações."
Stephen Green, do HSBC, ao
retomar a palavra, disse que a
crise "não nos cobre de glória,
mas o capitalismo ainda é o melhor para crescimento e tira
pessoas da miséria". Quanto à
compra de ativos problemáticos e outras iniciativas dos governos, disse que "são um número de coisas diferentes para
conseguir o mesmo [ultrapassar a crise o mais rápido possível]". "É necessário que o poder
público assuma isso", disse.
Stephen Roach, do Morgan
Stanley Asia, afirmou que as
iniciativas do governo americano não interromperão o forte
processo de desalavancagem,
de consumidores tentando sair
de suas dívidas.
"Não vamos nos iludir [de
que isso vá resolver o problema
da economia dos EUA]."
Um executivo japonês de
uma grande empresa, que pediu para não ser identificado,
opinou que, a exemplo do que
ocorreu no Japão, a recapitalização de bancos americanos e
europeus não será suficiente
para sair da crise. Apesar do
grande volume de recursos injetados na economia, em 1999,
a crise se prolongou por anos.
"O excesso de iniciativas do governo é arriscado porque não se
pode ficar injetando muito dinheiro na economia por muito
tempo. Há o problema fiscal."
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