|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
4 ANOS DE LULA
Sob Lula, crescimento fica igual ao de FHC
PIB de 2006 cresce 2,9%, e expansão no 1º mandato do petista atinge média de 2,6%, como no 1º governo do tucano
Analistas apontam para a continuidade da política econômica e a incapacidade de ambos de acelerar o crescimento da economia
FERNANDO CANZIAN
PEDRO SOARES
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
A economia brasileira cresceu 2,9% em 2006, disse ontem
o IBGE. Com isso, apesar do
discurso do "espetáculo do
crescimento", sob o primeiro
mandato do presidente Luiz
Inácio Lula (2003-06) da Silva,
o PIB do país cresceu, em média, 2,6% ao ano, igualando a taxa média de expansão da economia nos primeiros quatro
anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998).
Na segunda gestão de FHC
(1999-2002), a expansão média
da economia brasileira foi menor -2,1%. Em oito anos de governo do PSDB, o Brasil cresceu 2,3%, em média.
Se numericamente as taxas
de crescimento são parecidas
-e insuficientes para um país
em desenvolvimento e aquém
da média mundial-, o perfil da
expansão sobre os dois governantes é distinto.
No governo Lula, destacaram-se o consumo (alta média
anual de 2,5%) e o investimento (3,4%) no lado da demanda e
a indústria (3,6%) no da produção. Mas agropecuária cresceu
menos (3,4%).
Nos dois governos FHC, o
principal ponto negativo foi o
baixo crescimento industrial,
mas, no primeiro mandato do
tucano, consumo e investimentos foram bem, favorecidos pela estabilidade pós-Plano Real.
As exportações, por sua vez,
cresceram mais no segundo governo do ex-presidente.
"O segundo governo FHC foi
de taxas mais baixas porque o
cenário externo foi muito mais
negativo. Teve ainda a crise de
energia, em 2001, e a de 2002,
provocada pelas eleições. Mas
me parece que o crescimento
agora é bem mais consistente,
sem o controle da taxa de câmbio [do primeiro governo FHC]
e com os fundamentos mais sólidos", disse Paulo Levy, economista do Ipea, órgão do Ministério do Planejamento.
Para Celso Toledo, economista da MCM, não há diferença entre os dois governos, que
não foram capazes de acelerar o
crescimento.
"Tivemos o mesmo tipo de
política econômica, com ênfase
na estabilidade e no controle da
inflação. Isso mostra que o Brasil cresce só o que consegue.
Precisaríamos de outro tipo de
medidas, como diminuição da
carga tributária, para sair desse
patamar", disse Toledo.
Levy disse ainda que faltou
ao governo Lula avançar em reformas para ampliar o crescimento.
Para Rebecca Palis, gerente
de Contas Nacionais do IBGE,
"realmente não tem muita variação entre as taxas [de crescimento de Lula e FHC], mas, para fazer uma análise, é preciso
ver o que aconteceu em cada
período". E acrescentou: "Depende muito do cenário interno e externo".
O governo do PT começou
em 2003 já sob os reflexos da
crise detonada pelo receio da
vitória do então candidato Lula, quando linhas de crédito se
fecharam ao país e houve fuga
de capitais. O cenário fez o BC
elevar juros e estagnar a economia, que naquele ano cresceu
só 0,5% e viu consumo e investimentos caírem -1,5% e 5,1%,
respectivamente.
A economia recuperou-se em
2004 -4,9%, com crescimento
do investimento (10,9%), do lado do consumo, e da indústria
-7,9%. O BC de Lula foi acusado até pelos mais ortodoxos de
errar a mão no conservadorismo em 2005 e abortar um crescimento maior. Já em 2006, o
vilão foi o câmbio, que fez cair o
volume exportado (o que conta
no PIB, já que em valores elas
subiram por causa dos bons
preços das commodities) e o
desempenho da indústria.
No caso de FHC, a história se
divide entre antes e depois do
regime de câmbio fixo, abandonado em 1999. Até então, a indústria sofreu no primeiro
mandato e cresceu, em média,
apenas 1,2% ao ano, com invasão de importações, cujo crescimento médio no período foi
de 13,4%. A taxa superou a das
exportações -3,4%-, e o país
acumulou déficit comercial e
em conta corrente.
O consumo, por sua vez, subiu (3,7% na média anual) sustentado no aumento da renda e
na estabilidade dos preços. O
investimento subiu 4,4%, na
esteira do investimento estrangeiro em aquisições e no país e
nas privatizações.
O jogo virou em 1999 com a
mudança do regime cambial.
Cresceram exportações -9,7%
na média anual- e as importações caíram (3,8%). Com o
câmbio livre, a indústria reagiu
um pouco -alta de 2,3%- e a
agropecuária cresceu num ritmo acelerado (5,4%) graças às
exportações.
Na segunda gestão de FHC,
um tropeço comprometeu o
crescimento: o racionamento
de energia de 2001, que levou o
PIB a subir apenas 1,3% no ano
e a indústria a se retrair em
0,5%.
PIB per capita
No primeiro governo FHC e
no de Lula, o PIB per capita (divisão do produto pela população) também aumentou numa
taxa parecida -1,2% e 1%, respectivamente. No segundo
mandato de FHC, foi menor
-0,6%. O IBGE pondera, porém, que o crescimento populacional foi menor nos últimos
anos, o que pode ter elevado o
PIB per capita.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Frase Índice
|