São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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4 ANOS DE LULA

Sob Lula, crescimento fica igual ao de FHC

PIB de 2006 cresce 2,9%, e expansão no 1º mandato do petista atinge média de 2,6%, como no 1º governo do tucano

Analistas apontam para a continuidade da política econômica e a incapacidade de ambos de acelerar o crescimento da economia


FERNANDO CANZIAN
PEDRO SOARES
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira cresceu 2,9% em 2006, disse ontem o IBGE. Com isso, apesar do discurso do "espetáculo do crescimento", sob o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula (2003-06) da Silva, o PIB do país cresceu, em média, 2,6% ao ano, igualando a taxa média de expansão da economia nos primeiros quatro anos de mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-1998).
Na segunda gestão de FHC (1999-2002), a expansão média da economia brasileira foi menor -2,1%. Em oito anos de governo do PSDB, o Brasil cresceu 2,3%, em média.
Se numericamente as taxas de crescimento são parecidas -e insuficientes para um país em desenvolvimento e aquém da média mundial-, o perfil da expansão sobre os dois governantes é distinto.
No governo Lula, destacaram-se o consumo (alta média anual de 2,5%) e o investimento (3,4%) no lado da demanda e a indústria (3,6%) no da produção. Mas agropecuária cresceu menos (3,4%).
Nos dois governos FHC, o principal ponto negativo foi o baixo crescimento industrial, mas, no primeiro mandato do tucano, consumo e investimentos foram bem, favorecidos pela estabilidade pós-Plano Real. As exportações, por sua vez, cresceram mais no segundo governo do ex-presidente.
"O segundo governo FHC foi de taxas mais baixas porque o cenário externo foi muito mais negativo. Teve ainda a crise de energia, em 2001, e a de 2002, provocada pelas eleições. Mas me parece que o crescimento agora é bem mais consistente, sem o controle da taxa de câmbio [do primeiro governo FHC] e com os fundamentos mais sólidos", disse Paulo Levy, economista do Ipea, órgão do Ministério do Planejamento.
Para Celso Toledo, economista da MCM, não há diferença entre os dois governos, que não foram capazes de acelerar o crescimento.
"Tivemos o mesmo tipo de política econômica, com ênfase na estabilidade e no controle da inflação. Isso mostra que o Brasil cresce só o que consegue. Precisaríamos de outro tipo de medidas, como diminuição da carga tributária, para sair desse patamar", disse Toledo.
Levy disse ainda que faltou ao governo Lula avançar em reformas para ampliar o crescimento.
Para Rebecca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE, "realmente não tem muita variação entre as taxas [de crescimento de Lula e FHC], mas, para fazer uma análise, é preciso ver o que aconteceu em cada período". E acrescentou: "Depende muito do cenário interno e externo".
O governo do PT começou em 2003 já sob os reflexos da crise detonada pelo receio da vitória do então candidato Lula, quando linhas de crédito se fecharam ao país e houve fuga de capitais. O cenário fez o BC elevar juros e estagnar a economia, que naquele ano cresceu só 0,5% e viu consumo e investimentos caírem -1,5% e 5,1%, respectivamente.
A economia recuperou-se em 2004 -4,9%, com crescimento do investimento (10,9%), do lado do consumo, e da indústria -7,9%. O BC de Lula foi acusado até pelos mais ortodoxos de errar a mão no conservadorismo em 2005 e abortar um crescimento maior. Já em 2006, o vilão foi o câmbio, que fez cair o volume exportado (o que conta no PIB, já que em valores elas subiram por causa dos bons preços das commodities) e o desempenho da indústria.
No caso de FHC, a história se divide entre antes e depois do regime de câmbio fixo, abandonado em 1999. Até então, a indústria sofreu no primeiro mandato e cresceu, em média, apenas 1,2% ao ano, com invasão de importações, cujo crescimento médio no período foi de 13,4%. A taxa superou a das exportações -3,4%-, e o país acumulou déficit comercial e em conta corrente.
O consumo, por sua vez, subiu (3,7% na média anual) sustentado no aumento da renda e na estabilidade dos preços. O investimento subiu 4,4%, na esteira do investimento estrangeiro em aquisições e no país e nas privatizações.
O jogo virou em 1999 com a mudança do regime cambial. Cresceram exportações -9,7% na média anual- e as importações caíram (3,8%). Com o câmbio livre, a indústria reagiu um pouco -alta de 2,3%- e a agropecuária cresceu num ritmo acelerado (5,4%) graças às exportações.
Na segunda gestão de FHC, um tropeço comprometeu o crescimento: o racionamento de energia de 2001, que levou o PIB a subir apenas 1,3% no ano e a indústria a se retrair em 0,5%.

PIB per capita
No primeiro governo FHC e no de Lula, o PIB per capita (divisão do produto pela população) também aumentou numa taxa parecida -1,2% e 1%, respectivamente. No segundo mandato de FHC, foi menor -0,6%. O IBGE pondera, porém, que o crescimento populacional foi menor nos últimos anos, o que pode ter elevado o PIB per capita.


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