São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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4 ANOS DE LULA/ 2006

Economia acelera no último trimestre

Consumo das famílias e investimentos puxam expansão de 2,9% no ano passado, e PIB sobe 3,8% nos últimos 3 meses

Pela primeira vez desde 2000, setor externo é fator negativo no PIB brasileiro, com as importações crescendo 18% no ano


DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO

O PIB brasileiro cresceu 2,9% em 2006 em relação a 2005 e terminou o ano em aceleração. No último trimestre do ano passado, a economia brasileira cresceu 3,8% na comparação com igual período de 2005.
No segundo semestre de 2006, o país cresceu a uma taxa de 3,5%, acima dos 2,2% dos primeiros seis meses do ano. A expansão de 2006 foi apoiada principalmente no consumo das famílias e nos investimentos do setor produtivo e de construção civil. A maior força negativa foi o setor externo.
Favorecidas pelo dólar barato, as importações no ano passado aumentaram 18,1% (quase o dobro de 2005), contra exportações de 5%. "O grande fato de 2006 é que tivemos, pela primeira vez desde 2000, o setor externo contribuindo negativamente para o PIB", disse Rebeca Palis, do IBGE.
Enquanto a demanda interna cresceu cerca de 4,3%, o resultado do setor externo foi negativo em 1,4%. O saldo entre esses dois componentes gerais do PIB é o crescimento de 2,9%.
Mantendo uma tendência de 13 trimestres, o consumo das famílias subiu 3,8% no ano, apoiado em expansão de 5,6% da massa salarial e de 29,9% do crédito aos consumidores. Mas a indústria como um todo cresceu 3%, contra 3,3% de 2005.
Isso demonstra que boa parte da demanda interna foi atendida pelos importados.
No último trimestre de 2006, as importações deram novo salto, de 23,7%, na comparação com o mesmo período de 2005. Já as exportações subiram menos (4,3%) do que a média do ano, o que revela tendência de manutenção de resultados externos negativos no PIB.
O dólar também tende a seguir fraco, já que o Brasil atrai dinheiro de fora com a maior taxa de juros reais do mundo e com o resultado das exportações de commodities agrícolas e minerais, com preços altos.
Mesmo anteontem, quando os mercados globais viveram dia de forte turbulência, o dólar teve apenas uma pequena valorização no Brasil (1,7%), isso com o Banco Central intervindo para elevar o preço da moeda. Ontem, o dólar voltou a cair.
Economista do Ipea, Paulo Levy espera que o setor externo volte a contribuir negativamente para o PIB de 2007, reduzindo a expansão da economia em 1,3%. "Neste ano, teremos um cenário de recuperação gradual da economia apoiado na demanda interna, que deve crescer 4,9%", disse.
Diante da aceleração do crescimento no último trimestre de 2006, a projeção do Ipea, ligado ao Planejamento, de um PIB de 3,6% em 2007 deve ser revisada para um percentual um pouco maior (3,7%). O Ipea havia estimado em 3,4% o PIB de 2006.
Se por um lado as importações limitaram o aumento da produção da indústria (a de transformação cresceu só 1,9%), elas tiveram papel importante nos investimentos, no controle da inflação e na arrecadação (os impostos na área subiram 23,1%).
Os investimentos (chamados de FBCF -Formação Bruta de Capital Fixo) cresceram 6,3% em 2006. O aumento na aquisição de máquinas e equipamentos foi de 8,5% (a importação cresceu 24% em volume) e a construção civil (que representa 60% da FBCF) evoluiu 4,7%.

Condições de crescer
O economista Sérgio Vale, da MB Associados, afirma que o PIB de 2006 e as previsões para 2007 "vão deixando claro que o Brasil não tem muitas condições de crescer acima dos 3,5% sem mudanças estruturais".
Vale cita o enxugamento do gasto público e a conseqüente queda da carga tributária como condições para dar impulso ao PIB. Ele diz que mesmo a redução do juro não terá forte influência, já que as taxas para consumidores e empresas não caem na mesma velocidade.
Marcela Prada, economista da Tendências, afirma que o resultado de 2,9% em 2006 "é positivo" e que a evolução no último trimestre (3,8% sobre 2005) deve garantir um PIB de pelo menos 3,4% este ano.
Para o economista Bráulio Borges, da LCA, só o efeito inercial de um crescimento maior em 2006 (o chamado "carry over") poderia gerar uma expansão adicional de 0,2 ponto percentual do PIB em 2007. Ele manteve a projeção de 4,1% porque o IBGE vai mudar a metodologia do PIB e recalculá-lo. (FERNANDO CANZIAN e PEDRO SOARES)

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