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Crise se autoalimenta e piora nos EUA
Economia entra no ciclo vicioso em que retração no setor produtivo abala o segmento financeiro, e vice-versa
Inadimplência avança entre empresas e consumidores; espiral torna difícil uma avaliação de quando a crise no país encontrará um "piso"
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Uma série de indicadores e
resultados de empresas conhecidos nos últimos dias sugere
que os EUA entraram em uma
espiral em que as duas principais vertentes da crise econômica vêm se autoalimentando.
Os problemas no setor financeiro vazaram para a economia
produtiva, que respondeu com
mais desemprego e inadimplência, agravando ainda mais a
situação do setor financeiro
-reforçando o ciclo negativo.
Dados divulgados pelo Fed (o
BC dos EUA) na semana passada mostram que a inadimplência (atrasos ou calotes em pagamentos) de consumidores e
empresas com grandes instituições financeiras vem subindo
rapidamente. O não-pagamento de faturas de cartões de crédito em janeiro, por exemplo,
cresceu para 7,5% do total, um
salto anual de 40%. Com menos receita ingressando e os calotes aumentando, os bancos
veem-se obrigados a aumentar
provisões para perdas, o que
implica diminuição do crédito
disponível para o consumo.
Ao consumir menos, os norte-americanos reduzem o faturamento das empresas não-financeiras, que tendem a cortar
gastos e a demitir -elevando
ainda mais a possibilidade de
calotes entre seus ex-funcionários, por exemplo, ou entre os
que têm medo de ser demitidos. Essa espiral torna difícil
uma avaliação de quando a crise encontrará um "piso".
No caso de grandes varejistas, que costumam oferecer aos
clientes cartões de crédito que
têm por trás grandes bancos, a
inadimplência atingiu 10,5%
em janeiro, alta de 44% na
comparação com um ano atrás.
Resultados apresentados pela gigante Target, que atua tanto no varejo quanto no atacado
nos EUA, mostram que as despesas com calotes nos pagamentos de seus consumidores
via cartões de crédito triplicaram nos últimos meses. E a receita da empresa caiu 41% no
quarto trimestre de 2008.
Quedas de receita são enfrentadas com demissões, o que
agrava o ciclo. A Macy's, por
exemplo, com 860 lojas no país,
decidiu cortar 7.000 empregos
após ver seus lucros recuarem
59% no último trimestre de
2008. Na Sears, as vendas caíram 12%, e a empresa fechou 24
lojas e também demitiu.
Nessa espiral, a maioria das
empresas não apenas está ampliando as demissões, e dificultando a recuperação do setor financeiro (que sofre com a inadimplência maior), como congelando qualquer expectativa
de novas contratações ou de
aumentos salariais.
Em uma tentativa ambiciosa
de interromper esse ciclo vicioso, o presidente Barack Obama
divulgou na semana passada as
linhas gerais de seu primeiro
Orçamento, para o ano fiscal
que começa em outubro.
Ontem, em seu pronunciamento semanal, ele defendeu a
aprovação do Orçamento no
Congresso afirmando que "reflete a realidade que herdamos:
um déficit de US$ 1 trilhão,
uma crise financeira e uma recessão". Na peça orçamentária
de Obama, o governo prevê gastos na proporção de quase
US$ 2 para cada US$ 1 arrecadado, o que deve gerar um déficit de US$ 1,75 trilhão.
No mínimo, pois o Orçamento é otimista em relação à alta
das receitas daqui em diante e a
respeito da recuperação econômica. Prevê, por exemplo, que a
economia encolherá só 1,2%
neste ano e que crescerá 3,2%
no próximo. Nenhum organismo multilateral tem demonstrado tanto otimismo.
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