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BNDES e fundos devem financiar "superelétrica"
Governo monta operação para consolidar setor sob comando da Camargo Corrêa
Aquisição de controle da Neoenergia e da Brasiliana custaria até R$ 17 bilhões; governo pressiona para que americana AES deixe o país
LEILA COIMBRA
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto já começou a montar a operação financeira e societária para a
criação da "superelétrica" a ser
comandada pela empreiteira
Camargo Corrêa. O governo
quer que os fundos de pensão
das estatais e o BNDES injetem
recursos na nova empresa.
Pelo formato avalizado pelo
Planalto, a CPFL (controlada
pela empreiteira) será a cabeça
da companhia. Num primeiro
momento, incorporaria a
Neoenergia, na qual a Previ
(fundo dos funcionários do
Banco do Brasil) e o próprio BB
têm a maior parte do capital votante. Depois, já capitalizada, a
elétrica compraria a Brasiliana
(holding controladora de Eletropaulo, AES Sul e AES Tietê).
Assim, conforme a Folha antecipou no mês passado, seria
criada uma gigante no setor,
com mais de um terço da distribuição de energia no país.
Cálculos preliminares apontam a necessidade de R$ 15 bilhões a R$ 17 bilhões para a
aquisição da participação majoritária nas duas empresas.
Analistas de mercado avaliam que a operação faz todo o
sentido para a Previ. Ela também é sócia da CPFL, o que gera conflito de interesses devido
à sua participação na Neoenergia. Com a fusão das duas, a
Previ integraria o bloco de controle da nova companhia a partir da CPFL, que continuaria
sob o comando da Camargo.
Fonte ligada às transações
diz que a Previ faria um movimento parecido com o que a
Andrade Gutierrez fez na
Light, vendendo sua fatia na
concessionária mas se posicionando na controladora, a Cemig, que hoje é a dona da Light.
Um dos mecanismos estudados pelo governo para viabilizar as transações é a criação de
um Fundo de Investimento em
Participações (FIP), cujos cotistas seriam principalmente
os fundos de pensão -Previ,
Petros (Petrobras) e Funcef
(Caixa Econômica Federal)- e
a BNDESPar, braço de participações do BNDES. O FIP faria
parceria com a CPFL na compra das outras duas elétricas.
A estratégia faz parte da decisão do governo Lula de fomentar a formação de grandes
grupos nacionais. A ministra
Dilma Rousseff já disse publicamente que apoia o negócio e
que a concentração no setor é
uma tendência global.
Na Brasiliana, o maior obstáculo é societário. A americana
AES, sócia do BNDES na holding, não mostra disposição de
vender sua parte. O BNDES
tem 53,85% do capital total,
mas a operação é da AES, que
tem maioria do capital votante.
Pelas regras atuais, tanto
BNDES como AES não podem
negociar diretamente com ninguém. A oferta das ações tem
de ser por leilão. O governo já
havia tentado colocar a fatia do
BNDES à venda, mas como a
AES tem direito de preferência,
acabou desistindo.
No último mês, a AES alardeou que está capitalizada, pois
recebeu injeção de US$ 2 bilhões do fundo soberano chinês, e que estaria disposta a ficar no Brasil e até elevar a sua
presença. Fontes próximas à
ministra disseram que ela considerou a atitude dos americanos "uma afronta pessoal".
A ordem foi partir para uma
pressão direta para que a AES
deixe o país. A Folha apurou
que o BNDES já negocia a saída
dos americanos da sociedade e
que a discussão agora é só o
preço. Executivo familiarizado
com o negócio disse que a
CPFL provavelmente terá de
pagar caro pela Brasiliana, mas,
diante de boa oferta, a AES não
teria motivo para não vender.
Outra dúvida é a possibilidade de o leilão atrair rivais interessados na Eletropaulo. Para
executivo do setor, dificilmente um grupo teria musculatura
financeira para bater a Camargo, turbinada pelos fundos e o
BNDES. Segundo ele, as grandes múltis de energia estão fragilizadas pela crise global.
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