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Bancos europeus têm 70% da dívida pública dos "Pigs"
Alerta é do BIS; nos EUA e no Japão, a concentração da dívida em um único sistema bancário é menor
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
Não é só o euro que está na linha de mira da crise dos países
mediterrâneos. Os bancos europeus detêm cerca de 70% da
dívida no exterior dos setores
públicos de Portugal, Itália,
Grécia e Espanha (os "Pigs", no
acrônimo em inglês), alerta em
relatório divulgado hoje o BIS
(Banco para Compensações Internacionais, o BC dos BCs).
O caso mais grave é o de Portugal, onde o percentual da dívida nas mãos de bancos europeus é de 84%. Para os títulos
da Grécia, país onde o problema é mais iminente, o percentual é de 73%.
Em contraste, lembra o relatório trimestral do BIS, nenhum sistema bancário sozinho concentra mais da metade
dos títulos da dívida pública
dos Estados Unidos, do Japão
ou do Reino Unido.
No fim de setembro, segundo
o relatório, os principais bancos da zona do euro eram credores de 60% dos empréstimos
feitos em toda a região, ou US$
1,2 trilhão. E a proporção de sua
participação era muito maior
nos países periféricos em crise
do que, por exemplo, da Alemanha (46%) ou da França (32%).
O quadro serve de subsídio às
expectativas de que não só os
governos da região mas também os grandes bancos acorram para ajudar a Grécia.
O país deve anunciar uma
nova emissão de títulos nesta
semana, aproveitando que as
taxas sobre seus papéis cederam um pouco após o anúncio
de um pacote fiscal por Atenas
e a promessa renovada de mais
medidas austeras.
Os bancos alemães, segundo
noticiou o diário britânico "Financial Times" na sexta-feira,
devem ser os principais compradores desses novos títulos.
O BIS também chama a atenção para a disparada no incipiente mercado de CDS -os
credit default swaps, derivativos que os investidores compram para se proteger de uma
possível moratória, mas que
têm sido alvo de especulação e
apostas no default grego.
Apesar da volatilidade no índice ligado a esse mecanismo,
no entanto, sua participação no
mercado ainda é pequena. O
crescimento significativo só se
deu porque antes o instrumento era virtualmente inexistente
no caso europeu -um exemplo
é o caso português, onde apenas 5% da dívida pública está
"coberta" pelos CDS.
Embora foque os países mediterrâneos, o BIS chama atenção para o endividamento do
setor público com os bancos
nos países desenvolvidos como
um todo. Nos EUA, o salto nos
primeiros nove meses do ano
foi de 20%. Pesaram as injeções
para reavivar a economia no
pós-crise, mas também, ironicamente, o pacote de benesses
aos próprios bancos.
Na França, o endividamento
do setor público com os bancos
saltou mais ainda, 29%, e na
Alemanha, 15%. No Reino Unido o aumento foi de 13%.
Na contramão, o avanço da
fatia dos bancos nas dívidas públicas grega e portuguesa foi
muito menor no período: respectivamente, 5% e 9%.
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