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Inflação em alta ajuda a conter a dívida pública
Despesa com encargo deve ficar em 5,4% do PIB
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A alta da inflação vai ajudar a
manter a trajetória de queda da
dívida pública, compensando o
efeito negativo que a elevação
dos juros e a queda do dólar terão sobre as contas do governo
neste ano. Segundo o Banco
Central, as despesas com encargos da dívida devem ficar
num valor equivalente a 5,4%
do PIB (Produto Interno Bruto) ao longo de 2008, acima dos
5% projetados no fim de 2007.
Em relação à estimativa inicial, essa revisão representa um
aumento de aproximadamente
R$ 11 bilhões nas despesas com
juros do setor público como um
todo (governo federal, Estados,
municípios e estatais).
A alteração foi feita devido às
mudanças nas expectativas em
relação ao futuro da taxa Selic e
do câmbio. O cálculo inicial feito pelo BC, há três meses, considerava que a Selic fosse encerrar 2008 em 11,25% ao ano,
e o dólar, em R$ 1,80, seguindo
a estimativa média de cerca de
cem analistas de mercado consultados naquela ocasião.
De lá para cá, porém, a expectativa mudou, e os analistas
consultados passaram a prever
que a Selic suba para 12% ao
ano até dezembro, enquanto
reduziram para R$ 1,75 a estimativa para a taxa de câmbio.
Uma alta da taxa Selic aumenta o custo da dívida pública
porque boa parte dos títulos
emitidos pelo governo a utilizam como referência. Já a queda do dólar desvaloriza as aplicações do governo em moeda
estrangeira, principalmente as
reservas internacionais, que
atualmente estão perto do nível
recorde de US$ 200 bilhões.
Mesmo prevendo que os gastos com juros serão maiores do
que o esperado, o BC reduziu a
estimativa para o comportamento da relação entre dívida
pública e PIB.
Segundo a projeção inicial,
essa relação encerraria 2008
em 41,5%. Ontem, ela foi revista para 41,3%.
Índice maior
Em tese, gastos maiores com
juros deveriam resultar num
aumento da relação entre dívida e PIB. Nesse caso, porém, isso não acontece por causa da
metodologia usada pelo BC para calcular esse indicador, que
atualiza os valores do PIB de
acordo com a variação do IGP-DI (Índice Geral de Preços
-Disponibilidade Interna).
Em dezembro passado, a expectativa do mercado era de alta de 4,5% para o IGP-DI neste
ano. Na semana passada, essa
estimativa estava em 5,62%.
Com mais inflação, o PIB calculado pelo BC aumenta, e cai a
proporção da dívida pública.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Alltamir Lopes, minimiza o efeito que a alta dos preços tem sobre esse indicador, argumentando que,
com ou sem inflação, a relação
entre dívida e PIB deve encerrar o ano abaixo dos 42,7% apurados no final do ano passado.
"De qualquer forma, a tendência é de queda", afirma.
No mês passado, esse indicador ficou em 42,2%, um pouco
acima dos 41,9% de janeiro. A
alta ocorreu porque, em fevereiro, o aperto fiscal do setor
público foi insuficiente para cobrir todo o gasto com juros do
período: o superávit primário
foi de R$ 8,966 bilhões, contra
encargos de R$ 15,444 bilhões.
No ano, o superávit primário
acumula R$ 27,6 bilhões.
Para Luciano Costa, coordenador da área de pesquisa do
Unibanco Asset Management,
mesmo com a piora nas projeções do BC, a situação das contas públicas ainda é confortável. "O cenário ainda é bastante
positivo, o que mudou é a velocidade", diz o economista, se
referindo ao fato de que a tendência para a relação entre dívida pública e PIB persiste em
queda, ainda que ela deva ocorrer de forma mais lenta.
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