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CONJUNTURA
Produção industrial cai no primeiro trimestre, deve recuar de novo em abril, e Fiesp não prevê menos desemprego
Indústria de SP ainda não viu fundo do poço
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O nível de atividade da indústria
paulista recuou 1,7% em março e
colocou a produção nos mesmos
níveis registrados há um ano. O
resultado do mês passado adia a
recuperação do setor para o segundo semestre, na avaliação da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo).
"O primeiro trimestre não acabou bem, e nós acreditamos que
ainda não chegamos ao fundo do
poço", afirmou Clarice Messer,
diretora da Fiesp. Ela divulgou
ontem os números do INA (Indicador do Nível de Atividade), que
mostram que, com o resultado
negativo de março, a atividade industrial fechou em queda de 2,8%
no primeiro trimestre deste ano
em relação aos três primeiros meses de 2001.
No mês passado, os trabalhadores da indústria paulista trabalharam menos horas. As horas trabalhadas na produção caíram 1,5%.
Já as horas trabalhadas médias,
que mostram se aumentou ou diminuiu o número de horas trabalhadas por empregado, caíram
2,5% em março.
"Isso mostra que não há intenção de contratar pessoal", diz Clarice. "Não faz sentido contratar
novos trabalhadores quando os já
contratados estão trabalhando
cada vez menos", completa a diretora da Fiesp.
Frustração
O resultado de março frustrou
as expectativas da Fiesp que, até
fevereiro, previa que a indústria
poderia começar a crescer novamente a partir do segundo trimestre. A "mudança radical" de cenário, afirma Clarice, ocorreu no
mês passado, quando "ficou claro
que o Banco Central suspenderia
a política de redução dos juros".
A queda da renda dos trabalhadores e os juros altos são, na avaliação da diretora da Fiesp, os dois
principais entraves ao crescimento do setor industrial. A recuperação será mais lenta do que a inicialmente prevista, segundo Clarice, porque os juros irão cair menos do que o esperado.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
o rendimento dos trabalhadores
brasileiros sofreu uma queda real
-ou seja, já descontada a inflação- de 6,3% nos doze meses
terminados em fevereiro.
A taxa de juros básica, definida
pelo Banco Central, caiu de 19%
em janeiro para 18,50% em março. Em abril, o Banco Central decidiu manter a taxa de juros no
patamar atual, interrompendo a
tendência de queda.
Outra barreira enfrentada pela
indústria paulista é o alto grau de
incerteza enfrentado pelos empresários. Clarice citou pesquisa
divulgada na semana passada pela Fiesp. O estudo mostrava a queda da intenção de investimento
dos empresários do setor.
Segundo a pesquisa, um número menor de empresários iria investir este ano -quando comparado ao número de industriais
que investiram no ano passado-
por conta da incerteza quanto à
continuidade da recuperação econômica. "Há muitas dúvidas sobre a sustentabilidade do crescimento", afirmou Clarice.
A previsão da Fiesp é a de que o
nível de atividade volte a cair em
abril. Uma recuperação mais forte
viria, na avaliação de Clarice, apenas a partir do segundo semestre.
"A atividade da indústria está
travada pela falta de crédito", afirmou. Segundo o Banco Central, o
volume de operações de crédito
cresceu apenas 2,3% no primeiro
trimestre deste ano. No ano passado, o crescimento foi de 10,6%
no mesmo período.
Clarice citou o exemplo do setor
de material de transporte que, diz
ela, é fortemente afetado pela falta
de crédito na economia. Em março, o setor cresceu 0,6%. "O resultado está mascarado por conta de
setores como o de aviação, que
entram em material de transporte", explica. Em relação a março
do ano passado, o setor sofreu
uma queda de 14,2%. "A indústria
automobilística depende do crédito para crescer."
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