São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

País entra no "clube dos mais sérios", diz Mantega

JULIANNA SOFIA
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o Brasil entrou para o "clube" dos países "mais respeitados e sérios" do mundo. Segundo ele, a elevação do país ao título de grau de investimento ganha maior importância quando se considera o momento de crise internacional, em que várias economias estão fragilizadas.
Apesar da chegada do grau de investimento levar a uma valorização ainda maior do real, o ministro reafirmou que o governo manterá o câmbio flutuante e não pretende adotar, por ora, medidas para segurar a cotação. Segundo o ministro, o aumento das importações tem tido um efeito contrário no comportamento do câmbio.
A reclassificação do Brasil pela agência Standard & Poor's evidenciou mais uma vez a falta de sintonia entre Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ambos convocaram a imprensa para avaliar o resultado quase na mesma hora, mas em locais diferentes. Meirelles estava fora de Brasília e fez suas declarações em uma "conference call" montada na sede do BC. Já Mantega concedeu entrevista no Ministério da Fazenda.
Meirelles disse acreditar que a notícia vá ajudar o Brasil a atrair investimentos que possam expandir sua capacidade produtiva. "Esse anúncio certamente terá diversas conseqüências. Deve aumentar o fluxo de investimentos estrangeiros diretos ao longo do tempo, aumentando a capacidade do país em crescer a taxas ainda mais elevadas", afirmou.
Ele evitou, porém, falar nos efeitos que a notícia deve ter sobre o câmbio, a inflação e os juros adotados no país. "Vamos aguardar e analisar todos esses fatores nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária", disse Meirelles, acrescentando que há uma "confiança na resistência da economia brasileira a choques externos".
Para Mantega, a reclassificação brasileira é resultado de uma combinação de política fiscal e monetária sólida, inflação baixa e crescimento robusto. "O Brasil é um país fortalecido. Estamos crescendo acima de 5%, as contas estão equilibradas e estamos cumprindo à risca as metas de superávit. Aqueles que dizem que não estamos controlando as despesas estão equivocados", afirmou.
Ele destacou ainda que o governo tem se "esmerado" no controle da inflação, apesar da pressão do preço dos alimentos. "Há um choque de oferta, e o Brasil está em situação favorecida. Estamos com taxa de inflação inferior à de países emergentes. Se tirarmos os alimentos, a inflação fica entre 3% e 3,5%", disse comparando a situação brasileira à realidade americana. "Não sei se isso é vantagem ou desvantagem."
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) disse que as empresas brasileiras serão as grandes beneficiadas com o selo de "investment grade" porque terão acesso a capital com custo mais baixo. "As nossas empresas vão conseguir captar recursos a custos menores, terão condições de retomar o lançamento de ações no mercado."
Bernardo disse que o impacto negativo na taxa de câmbio será compensado pelo fato de que "boa parte dos novos aportes será de investimento direto e vai aumentar a capacidade de produção do país".

BNDES
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, afirmou que a concessão do grau de investimento permitirá a empresas e bancos acessar o mercado internacional com custos mais competitivos. Dessa forma seria possível obter maior fluxo de financiamento externo de novos investimentos diretos.
"Com isso, reduz-se o custo de capital para o financiamento da dívida pública e dos grandes projetos de longo prazo. Abrem-se, assim, novas oportunidades para o BNDES viabilizar os recursos necessários à expansão do investimento", afirmou Coutinho.


Colaboraram VALDO CRUZ , da Sucursal de Brasília, e JANAINA LAGE , da Sucursal do Rio


Texto Anterior: Nova nota não combina com juro alto, diz indústria
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.