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Contas públicas pioram no 1º trimestre
Aumento da arrecadação não consegue acompanhar ritmo de alta dos gastos do governo federal, que cresceram 19,3%
De janeiro a março, receitas tiveram crescimento de 16% ante o mesmo período de 2009; resultado foi o pior para o 1º trimestre em 8 anos
LORENNA RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mesmo com a recuperação
da economia e o aumento na arrecadação de impostos, as contas públicas registraram no primeiro trimestre o pior desempenho para o período desde
2002, início da série histórica
do Banco Central.
O crescimento dos gastos do
governo federal em ritmo superior ao das receitas derrubou o
resultado registrado pelo setor
público de janeiro a março. No
período, as despesas tiveram
aumento de 19,3%, e as receitas, de 15,8%, na comparação
com igual período de 2009.
Nesse período, o superavit
primário (resultado antes do
pagamento dos juros) da
União, Estados, municípios e
estatais (exceto a Petrobras) foi
de R$ 16,82 bilhões, ante R$
18,81 bilhões no ano passado.
Nos três primeiros meses de
2009, porém, o recolhimento
de impostos apresentava quedas consecutivas por conta da
diminuição da atividade econômica provocada pela crise financeira mundial.
Já neste ano, a arrecadação
está em alta, mas não consegue
acompanhar a velocidade do
aumento das despesas. A maior
quantidade de dinheiro público
na economia ajuda a pressionar
a inflação, o que leva o Banco
Central a elevar a taxa de juros
para controlar os preços, como
ocorreu na semana passada,
quando subiu a Selic em 0,75
ponto percentual.
"Alguém tem que pagar essa
conta, e quem sempre acaba
pagando é a política monetária,
que já começa de novo a aumentar os juros. Os juros só são
altos porque os gastos do governo são elevados", afirma Felipe
Salto, economista da consultoria Tendências.
A elevação dos gastos pode
levar ainda ao aumento de impostos -ou redução de incentivos fiscais- e da dívida pública,
alternativas para financiar as
despesas do governo. Nos três
primeiros meses do ano, o pagamento de juros da dívida
também bateu recorde, derrubando o resultado nominal
também ao pior nível da série,
com deficit de R$ 28,15 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, isso se deu principalmente pelo aumento dos
custos com títulos públicos remunerados pela variação da inflação, que subiu neste primeiro trimestre. Indicador oficial
de inflação, o IPCA acumulou
alta de 2,03% no trimestre. A
meta para todo o ano é de 4,5%.
Para Salto, a tendência é que
os gastos com juros da dívida
continuem a subir ao longo do
ano por conta dos papéis atrelados à Selic, que deverá continuar a subir até o fim do ano. O
mercado espera que feche em
11,75%, ante os atuais 9,5%.
Em março, o setor público teve o primeiro deficit para o mês
desde 2002, apresentando resultado negativo de R$ 216 milhões. Mesmo expurgados os
gastos atípicos com pagamento
de precatórios e sentenças judiciais, o desempenho do mês está bem abaixo do de março de
2009, também por conta da alta nos gastos públicos.
"O investimento subiu muito
comparado a março de 2009. O
custeio também acaba pesando, tem crescimento forte no
acumulado do ano que reflete
em grande parte a alta do salário mínimo", completa Lopes.
Com o resultado de março, a
economia para o pagamento
dos juros alcançou nos últimos
meses 1,94% do PIB, abaixo da
meta de 3,3% que o governo
quer alcançar no fim do ano.
Com isso, o governo poderá ter
que repetir manobra feita no
ano passado e descontar gastos
com investimento em infraestrutura e do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento) do
valor a ser alcançado.
"Quando olho o número frio,
estamos muito mais para o
cumprimento da meta com
ajuste [com desconto do investimento], mas vamos esperar o
resultado de abril", diz Lopes.
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