São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

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AQUECIMENTO

Mercado interno faz o PIB crescer 1,4%

Todo o crescimento do primeiro trimestre é explicado pela expansão doméstica, com consumo e investimentos em alta

Com mais importações, pela primeira vez desde 2003 a contribuição do mercado externo para a economia do Brasil foi negativa

MARCELO BILLI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

PEDRO SOARES DA SUCURSAL DO RIO A economia brasileira mudou sua forma de crescer no primeiro trimestre do ano. Pela primeira vez desde 2003, o mercado interno foi o único responsável pela expansão. O setor externo, mola do crescimento anterior, desempenhou papel negativo no período.
Aliado ao crescimento de 0,5% do consumo privado e de 1% do consumo do governo, o aumento de 3,7% dos investimentos fez com que a economia brasileira crescesse 1,4% no primeiro trimestre e registrasse a maior taxa de expansão desde o terceiro trimestre de 2004, quando a economia crescera 1,5% em relação ao trimestre anterior.
No período, as exportações cresceram 3,9%, enquanto a expansão das importações atingiu nada menos do que 11,6%, sempre comparando com o trimestre anterior. Com o desempenho superior das importações, o setor externo teve contribuição negativa para o PIB (Produto Interno Bruto).
"Durante os últimos trimestres, a contribuição do setor doméstico para o PIB vinha aumentando, mas ele nunca havia sido o único fator a contribuir para o crescimento, já que o setor externo estava ajudando no resultado geral", diz a economista Emy Shayo, da Bear Stearns.
O setor externo tornou-se importante para o crescimento brasileiro porque, à medida que o mercado interno minguava ante os juros altos e o baixo crescimento, mais e mais empresas buscavam saída nas exportações. A estratégia foi ainda mais beneficiada pela desvalorização do câmbio em 1999.
Entre 2001 e 2003 a área externa respondeu por quase todo o crescimento da economia, enquanto a interna encolhia.
Levantamento da LCA Consultores mostra que em 2003, por exemplo, quando a economia cresceu só 0,5%, o mercado interno encolheu 1,1%, contra aumento de 1,6% no externo. Na prática, o crescimento das exportações, naquele ano, salvou o país de uma recessão.
"Agora você está trocando o crescimento do setor externo pela demanda interna", diz Sergio Valle, economista da MB Associados. Neste ano, a projeção da LCA, por exemplo, é que o mercado interno cresça 4,3%. Já a contribuição do setor externo ficaria negativa em 0,5%
O mercado interno só passou a se recuperar em 2004. Ainda assim, o externo contribuía com parte importante do crescimento. O perfil agora mudou. Parte importante do crescimento deste ano, diz Rebeca Palis, do IBGE, é explicada pela menor taxa de juros e pelos aumentos da renda média dos trabalhadores e do volume de crédito. "Mesmo o investimento você pode encarar como conseqüência, porque, quando você cresce precisa expandir, a capacidade", diz ela.
A alta dos investimentos -de 3,7% em relação ao último trimestre de 2005 e 9% em relação ao mesmo período do ano passado- também em parte contribuiu para a alta das importações. Tendência positiva, diz Solange Srour, economista-chefe da MellonGlobal Investments no Brasil. Entre as importações que mais cresceram, estão as de bens de capital (máquinas e equipamentos), que servem para aprimorar a capacidade produtiva das empresas. "Com a expansão do investimento, cria-se oportunidade de crescer mais no futuro", diz ela.
O consumo aumentou 0,5% em relação ao trimestre anterior e 4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Na ponta, houve alguma desaceleração, já no último trimestre do ano passado o crescimento em relação ao trimestre anterior havia sido de 1,2%. Mas, diz Palis, do IBGE, é natural que, depois de três trimestres de alta ininterrupta do consumo, haja alguma acomodação.
Também retrato do bom desempenho doméstico, pelo lado da oferta o destaque ficou com a indústria, que cresceu 1,7% em relação ao trimestre anterior e 5% em relação ao mesmo trimestre de 2005.
A expansão dos 12 meses encerrados em março ficou em 2,4%, contra 2,3% no ano de 2005. As previsões para este ano estão entre 3,5% e 4%.


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