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OPINIÃO ECONÔMICA
Troca desigual
JOÃO SAYAD
O governo tem respondido
perguntas e dado declarações
como se fosse responsável por
tudo de bom e de ruim que
acontece no país.
O resultado é negativo: muitas vezes, nega os problemas.
Não existe desemprego, os saques são manifestações eleitorais e assim por diante.
Quando nega o problema ou
debita a adversário mal-intencionado, demonstra falta de
empatia com as vítimas.
Seria mais fácil e justo fazer
declarações do tipo: "o desemprego é o pior dos problemas
sociais, o mais cruel e injusto.
Corrói as estruturas mais íntimas da sociedade. O governo
fará tudo que estiver a seu dispor para resolvê-lo. O desempregado conta com a compreensão, o apoio e as políticas do
governo para reduzir o seu sofrimento".
Se o governo faz ou não faz,
ou porque não quer ou porque
não pode, é outro problema. A
função de pai compreensivo foi
desempenhada. Se o pai é onipotente é outra questão.
Da mesma forma, a seca. Pode-se acusar o PFL de tudo.
Ninguém pode dizer que o governo não agiu contra a seca
por causa do PFL. A base do
partido é o Nordeste e deve ser o
mais prejudicado pela pouca
ação do governo.
Não é preciso que o governo
faça chover. Nem que resolva o
problema de todos os flagelados. Basta mostrar empenho,
esforço e dedicação. Com tudo
isso, é capaz de reduzir alguns
dos prejuízos da seca. Se não for
bem-sucedido, será menos criticado.
Hoje, trato da instabilidade
da economia brasileira. Não se
trata de crítica que possa ser
respondida imediatamente com
gráficos, tabelas, médias móveis
e negação. Nem que exista disponível um conjunto pronto de
soluções. É possível fazer crítica
e não apresentar solução.
Neste final de maio de 98, saltou aos olhos de todos os brasileiros que o fim da inflação,
desde maio de 1994, não produziu nada do que esperávamos,
todos nós, governo, economistas, políticos e todos os analistas.
A inflação vem se reduzindo a
níveis menores e mais rapidamente do que esperávamos.
Mas a instabilidade do nível de
produção tem sido muito alta.
Logo depois de julho de 94, a
economia e as importações subiram como um foguete. O governo estabeleceu uma política
severa de reservas compulsórias
que foi bem-sucedida. A economia despencou nos primeiros
nove meses de 1995.
Começou a se recuperar no final de 1995 e assim foi até 1996.
Recuperação lenta, mas recuperação. No segundo semestre de
1997 a economia começou a recuar. Sobre a redução gradual e
espontânea da economia, vem a
crise do Sudeste da Ásia, os juros são fixados em 40% ao ano
e a economia entra em novo
mergulho de queda de vendas,
desemprego e inadimplência.
Ou seja, nos últimos quatro
anos tivemos crescimento muito
lento, com duas freadas bruscas
em 95 e 97 que tiveram efeitos
duradouros.
Existem problemas conhecidos: o câmbio sobrevalorizado,
a redução das tarifas muito
precipitada e violenta, agricultura e indústria afetadas por
câmbio e tarifas muito baixas.
Mesmo assim, por que a economia deveria crescer? Quais
são os fatores de crescimento?
Nem emprego nem salário têm
crescido. Portanto, o consumo
só cresce empurrado pelo crédito ao consumidor para compra
de geladeiras, televisões e automóveis. Exatamente como em
vários outros períodos da economia brasileira.
Os baixos coeficientes automóvel/habitante, geladeira/habitante, torradeira/habitante
enganam a todos. O fato de o
consumidor brasileiro ter padrões de consumo baixo não
quer dizer que ele pode comprar
mais. Desemprego e salários estáveis não permitem que compre mais.
Os ganhos de produtividade,
como fator de crescimento, se
anulam quando subtraímos as
reduções de emprego.
Só o crédito ao consumidor
tem conseguido empurrar as
vendas de duráveis. Mas logo,
taxas de juros altas ou desemprego criam dificuldades de pagamentos, inadimplência e a
reversão do surto de expansão.
Assim, o impulso inicial dado
pela venda de bens de consumo
durável não se prolonga e não é
complementado por investimentos e crescimento de outros
setores.
Os investimentos privados
não foram suficientes para aumentar a taxa de crescimento.
Ainda que as estatais privatizadas estejam fazendo novas encomendas, o impacto final sobre a demanda agregada tem
sido pouco importante. Investimentos em telecomunicações,
energia elétrica e lazer têm sido
pequenos para mover a economia brasileira.
Parece que nos livramos da
inflação em troca de desemprego, instabilidade financeira, e
um saldo elevado de dívida pública com juros muito altos.
João Sayad, 51, economista, professor da
Faculdade de Economia e Administração da
USP e ex-ministro do Planejamento (governo
José Sarney), escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
E-mail: jsayad@ibm.net
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