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COMUNICAÇÃO & MERCADO
Brigando pela idéia
HELCIO EMERICH
Os profissionais mais antigos da propaganda devem ter
ouvido falar de George Lois, o
publicitário que nos anos 60,
nos Estados Unidos, ficou conhecido no seu meio profissional pelo apelido de "ad warrior", o guerreiro da propaganda.
A fama não tinha muito a
ver com o engajamento de
Lois nas cruzadas da época
pela valorização da atividade
publicitária ou em defesa dos
interesses corporativos da categoria. Ele não era militante
ativo de associações e entidades de classe.
O que movia a sua combatividade eram as batalhas pessoais que gostava de encarar,
de maneira obstinada e não
raramente agressiva, contra a
vacilação e a falta de coragem
dos executivos dos clientes na
hora de aprovar idéias criativamente ousadas para as
campanhas que ele apresentava. Um drama, diga-se de passagem, que até hoje é motivo
de frustração para o pessoal
de criação e atendimento das
agências.
George Lois trabalhou na
fase de ouro da Doyle, Dane,
Bernach e, em 1972, escreveu
seu primeiro livro, cujo título,
"George, Be Careful" (George,
seja cuidadoso), lembrava o
tipo mais comum de conselho
que costumava ouvir dos
anunciantes quando brigava
por idéias mais arrojadas.
"Ser "cuidadoso' na aprovação de uma idéia criativa só
resulta em mediocridade",
fulminava ele no livro.
Duas décadas depois, já recorrendo as suas memórias,
publicou "What's the Big
Idea?" (O que é a grande
idéia?), cujo alvo eram as
mesmas corporações que querem parecer fortes, mas cujos
gerentes de marketing e propaganda têm medo de cometer erros quando precisam decidir sobre negócios de grande
visibilidade, como é o caso da
propaganda.
O guerreiro tinha uma rixa
particular com os departamentos jurídicos dos clientes.
Seu conceito mais ameno sobre os advogados é de que eles
são "assassinos da criatividade". E não ficava só no terreno
da polêmica.
Quando a Uniroyal lançou
nos Estados Unidos uma nova
marca de revestimento plástico batizada de Naugahyde
(logo imitado por vários concorrentes), Lois criou a figura
de um animal, o "Nauga", para diferenciar o produto da
competição.
O departamento legal da
Uniroyal vetou o símbolo alegando que a empresa teria
problemas com a Federal Trade Commission. Os consumidores poderiam pensar que se
tratava de um animal de verdade e se sentiriam enganados ao descobrir que o "Nauga" não passava de uma ficção publicitária.
George Lois foi com uma
equipe da agência para as
ruas de Nova York levando
fotos do bicho e perguntando
a todo mundo: "Você acha
que este animal existe?". Ninguém respondeu "sim" e a
campanha foi para o ar enchendo de dólares os cofres da
Uniroyal.
Ah, Lois também detestava
pré-testes de campanhas em
geral. A não ser, como no caso
do "Nauga", os que ele mesmo
fazia para provar que estava
certo.
Helcio Emerich é jornalista, publicitário e
vice-presidente da agência Almap/BBDO.
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