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CRISE NO AR
Anúncio oficial deve ser feito na sexta com a presença dos ministros Furlan (Desenvolvimento) e Viegas (Defesa)
Varig e TAM fecham o acordo para a fusão
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O anúncio dos termos da fusão
Varig-TAM deverá ser feito na
próxima sexta-feira, em São Paulo, com a participação dos ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e José Viegas
(Defesa). A presença dos dois ministros será uma forma de deixar
claro que o governo está comprometido, inclusive financeiramente, com o acordo.
Pelos termos acertados, a VEM
(Varig Engenharia e Manutenção) vai continuar a pertencer
unicamente à Fundação Ruben
Berta (controladora da Varig). Ela
deve assumir a manutenção dos
aviões da TAM nos próximos dias
e depois, com exclusividade, a da
nova companhia aérea que resultar da fusão.
A TAM reagiu durante semanas
contra essa fórmula, mas cedeu
ao argumento da Fundação Ruben Berta, que afirmou que só terá 2,5% das ações da nova companhia (outros 2,5% ficarão nas
mãos de outros acionistas da Varig). A fundação precisa de uma
receita de pelo menos R$ 500 milhões por ano para sobreviver.
Em 2002, a VEM faturou R$ 416
milhões, de maneira que deve servir à fundação como garantia de
fonte para a maioria da receita necessária para os próximos anos.
Até ontem, faltava para a Varig e
a TAM apenas o que estava sendo
chamado de "pente-fino jurídico"
nos termos acertados entre as
duas companhias. Isso para evitar
furos no acordo que permitam
processos posteriores na Justiça,
especialmente iniciados por funcionários da Varig. A fusão deve
resultar em mais de 5.000 demissões nas duas empresas.
Uma das exigências do governo
durante as negociações era a de
que o acordo incluísse um plano
de demissões voluntárias. Ontem,
os técnicos envolvidos não informaram detalhes sobre os termos
finais.
O que é certo é que a nova companhia irá contratar uma empresa especializada em recursos humanos para estudar o destino dos
23,5 mil trabalhadores da Varig e
da TAM.
O acordo a ser firmado na sexta-feira é o de "irreversibilidade" da
fusão (o de intenção de fusão é de
janeiro e vence no próximo dia 6).
Ele foi sempre colocado pelo Palácio do Planalto e pelos seus negociadores, especialmente Viegas,
como pré-requisito para qualquer
investimento do governo na nova
empresa - a "nova Varig", como
tem sido chamada no mercado.
A partir de sexta-feira, portanto,
também será anunciada ajuda do
governo para o empreendimento,
via BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social).
A primeira parcela, de US$ 120
milhões, servirá como aval para a
Varig poder continuar a comprar
combustíveis da BR Distribuidora
até que a fusão das empresas seja
concluída.
A Varig esteve sujeita nos últimos meses a forte pressões para
fechar o acordo, pois corria o risco de ter de paralisar suas atividades por falta de querosene de
aviação.
Outros US$ 480 milhões serão
liberados posteriormente pelo
BNDES para a nova companhia.
A aviação civil está em crise em
todo o mundo, inclusive nos Estado Unidos, mas é considerada
"área estratégica" pelo governo
Luiz Inácio Lula da Silva.
Nas discussões preliminares sobre a fusão das duas companhias,
falou-se até na criação de uma
empresa estatal. Essa idéia, no entanto, nunca foi adiante. O resultado da fusão deverá ser uma nova empresa privada com financiamento público.
Troca no BNDES
Conforme a Folha apurou, o
desfecho das negociações da fusão Varig-TAM ocorre simultaneamente a um processo de desgaste do atual presidente do
BNDES, Carlos Lessa.
Na avaliação feita em Brasília,
Lessa nunca se entendeu com
Furlan, apesar de o banco ser vinculado ao Ministério do Desenvolvimento. Lessa é considerado
um professor cheio de idéias que
nunca coloca em prática, enquanto Furlan é um empresário pragmático e muito preocupado com
eficiência.
Além disso, os dois têm concepções diferentes sobre o uso de recursos do banco para pressionar o
crescimento econômico. Lessa
tem uma visão mais "para dentro", enquanto Furlan privilegia
as exportações.
Do ponto de vista político, retirar Lessa do cargo tem um complicador grave: cutucar a professora Maria da Conceição Tavares,
que tem ascendência sobre diferentes gerações de petistas e é
uma crítica implacável de governos. Não perdoa nem mesmo o
do PT.
Ultrapassada a fase da fusão Varig-TAM e driblada a resistência
da professora, o nome mais forte
para o cargo, segundo os adversários de Lessa, é o do ex-ministro e
ex-secretário de São Paulo João
Sayad, que, aliás, estará hoje em
Brasília para compromissos da
Caixa Seguros, empresa da Caixa
Econômica Federal da qual ele é
conselheiro.
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