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AUTOCRÍTICA
Instituição vai produzir relatório para "tirar lições" sobre a crise do país, a quem apoiou desde 91 e elogiava até a quebra
FMI ensaia mea culpa sobre colapso argentino
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) começou a ensaiar um
mea culpa sobre a quebra da Argentina e anunciou ontem que vai
produzir um relatório completo
para "tirar lições" da recente crise
no país.
A avaliação será conduzida pelo
IEO (sigla em inglês para Escritório Independente de Avaliação),
órgão não vinculado à gerência
do FMI, mas que atua como um
braço de seu comitê executivo.
O resultado deve ficar pronto
apenas em 2004. Já no seu anúncio, no entanto, a avaliação é que a
crise argentina "levantou sérias
questões para o FMI por ter ocorrido enquanto a política econômica do país estava sob o escrutínio de um programa apoiado pelo
Fundo".
O FMI reconhece também que
estava "continuamente engajado
com a Argentina desde 1991",
quando o país adotou a paridade
de 1 dólar por 1 peso.
No final, o chamado "Plano de
Convertibilidade" foi considerado o principal fator que arrastou
os argentinos para o "corralito" e,
na sequência, à moratória das dívidas do país.
Até os meses finais de 2001, a
Argentina era elogiada por suas
conquistas na estabilização da
economia, pelo crescimento econômico médio de 6% ao ano entre
1991 e 97 e pela condução de reformas -tudo sob os auspícios
do Fundo.
Entre 1991 e 2002, a Argentina
teve quatro programas de financiamento assinados com o FMI,
cada um maior do que anterior.
Elogios
Mesmo no final de 2000, quando o país começou a sofrer uma
forte restrição ao crédito internacional, com várias avaliações de
que o sistema de paridade cambial era insustentável, o FMI continuou a dar suporte financeiro à
Argentina e a elogiar suas decisões de política econômica.
Poucos meses depois, quando
começou uma corrida aos bancos
para saques de dólares na paridade 1 a 1 e o país introduziu o congelamento parcial dos depósitos,
o FMI, segundo a própria avaliação do IEO, deixou de "materializar" um "desembolso esperado"
-levando a Argentina ao início
de uma onda de não-pagamento
de suas dívidas.
Fatores externos
O IEO, na apresentação do início da avaliação, ainda tenta introduzir "fatores externos" como
cruciais para explicar o fato de o
país ter mergulhado em uma crise
sem precedentes.
Todos os itens citados, no entanto, vinham sendo monitorados de perto pelo Fundo.
Entre os fatores enumerados,
constam: 1) uma política fiscal
"frouxa", particularmente em períodos de rápido crescimento,
quando superávits poderiam ter
sido gerados para momentos difíceis; 2) a existência do regime de
convertibilidade, que não permitiu que o país se ajustasse a choques externos; 3) oscilações bruscas na entrada e saída de capital
estrangeiro; 4) diminuição no ritmo das reformas; e 5) problemas
institucionais que impediram a
adoção de medidas corretivas.
Missões
Apesar dos "fatores externos"
responsáveis pelo agravamento
da crise, mais de 50 missões do
FMI visitaram a Argentina entre
1991 e 2002 para supervisionar as
reformas nas áreas fiscal, monetária e bancária.
Apesar do acompanhamento
detalhado, correções que o Fundo
agora aponta como necessárias à
época não foram feitas.
Na semana passada, o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, visitou Buenos Aires e disse "confiar" e ver "progressos" no novo
governo argentino.
O Fundo e o país podem fechar
um novo acordo até o fim de
agosto em substituição ao atual,
que permitiu rolar US$ 7 bilhões
antes da eleição que levou Néstor
Kirchner à Presidência.
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