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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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AUTOCRÍTICA

Instituição vai produzir relatório para "tirar lições" sobre a crise do país, a quem apoiou desde 91 e elogiava até a quebra

FMI ensaia mea culpa sobre colapso argentino

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) começou a ensaiar um mea culpa sobre a quebra da Argentina e anunciou ontem que vai produzir um relatório completo para "tirar lições" da recente crise no país.
A avaliação será conduzida pelo IEO (sigla em inglês para Escritório Independente de Avaliação), órgão não vinculado à gerência do FMI, mas que atua como um braço de seu comitê executivo.
O resultado deve ficar pronto apenas em 2004. Já no seu anúncio, no entanto, a avaliação é que a crise argentina "levantou sérias questões para o FMI por ter ocorrido enquanto a política econômica do país estava sob o escrutínio de um programa apoiado pelo Fundo".
O FMI reconhece também que estava "continuamente engajado com a Argentina desde 1991", quando o país adotou a paridade de 1 dólar por 1 peso.
No final, o chamado "Plano de Convertibilidade" foi considerado o principal fator que arrastou os argentinos para o "corralito" e, na sequência, à moratória das dívidas do país.
Até os meses finais de 2001, a Argentina era elogiada por suas conquistas na estabilização da economia, pelo crescimento econômico médio de 6% ao ano entre 1991 e 97 e pela condução de reformas -tudo sob os auspícios do Fundo.
Entre 1991 e 2002, a Argentina teve quatro programas de financiamento assinados com o FMI, cada um maior do que anterior.

Elogios
Mesmo no final de 2000, quando o país começou a sofrer uma forte restrição ao crédito internacional, com várias avaliações de que o sistema de paridade cambial era insustentável, o FMI continuou a dar suporte financeiro à Argentina e a elogiar suas decisões de política econômica.
Poucos meses depois, quando começou uma corrida aos bancos para saques de dólares na paridade 1 a 1 e o país introduziu o congelamento parcial dos depósitos, o FMI, segundo a própria avaliação do IEO, deixou de "materializar" um "desembolso esperado" -levando a Argentina ao início de uma onda de não-pagamento de suas dívidas.

Fatores externos
O IEO, na apresentação do início da avaliação, ainda tenta introduzir "fatores externos" como cruciais para explicar o fato de o país ter mergulhado em uma crise sem precedentes.
Todos os itens citados, no entanto, vinham sendo monitorados de perto pelo Fundo.
Entre os fatores enumerados, constam: 1) uma política fiscal "frouxa", particularmente em períodos de rápido crescimento, quando superávits poderiam ter sido gerados para momentos difíceis; 2) a existência do regime de convertibilidade, que não permitiu que o país se ajustasse a choques externos; 3) oscilações bruscas na entrada e saída de capital estrangeiro; 4) diminuição no ritmo das reformas; e 5) problemas institucionais que impediram a adoção de medidas corretivas.

Missões
Apesar dos "fatores externos" responsáveis pelo agravamento da crise, mais de 50 missões do FMI visitaram a Argentina entre 1991 e 2002 para supervisionar as reformas nas áreas fiscal, monetária e bancária.
Apesar do acompanhamento detalhado, correções que o Fundo agora aponta como necessárias à época não foram feitas.
Na semana passada, o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, visitou Buenos Aires e disse "confiar" e ver "progressos" no novo governo argentino.
O Fundo e o país podem fechar um novo acordo até o fim de agosto em substituição ao atual, que permitiu rolar US$ 7 bilhões antes da eleição que levou Néstor Kirchner à Presidência.


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