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Negociação comercial começa sob impasse
Primeiro dia oficial de encontro da OMC em Genebra termina com negociadores tentando refazer cronograma de Doha
União Européia e países em desenvolvimento fazem pressão sob os Estados Unidos para país reduzir seus subsídios agrícolas
SHEILA D'AMORIM
ENVIADA ESPECIAL A GENEBRA
As negociações para tentar
definir cortes nos subsídios
agrícolas e maior abertura comercial e industrial no mundo
empacaram no primeiro dia
oficial de discussão e mais uma
etapa da chamada Rodada de
Doha deve fracassar.
Reunidos na sede da Organização Mundial do Comércio
(OMC), em Genebra, os representantes da União Européia
(UE) e dos países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil e
pela Índia, não conseguiram arrancar dos EUA um compromisso para redução mais significativa dos subsídios dados pelo governo aos agricultores locais, o que gera uma distorção
no comércio internacional.
Depois de um dia intenso de
discussões com diferentes grupos, os ministros dos EUA, da
UE, do Japão, do Brasil, da Índia e da Austrália, o chamado
G6, reuniram-se na noite de
ontem para definir uma fórmula de salvar a rodada, estabelecendo um novo cronograma
para tentar desatar os nós que
impedem o acordo.
A decisão do G6 deverá ser
discutida oficialmente hoje. A
Folha apurou que na reunião
não se discutia mais a substância das propostas, mas como
proceder daqui para a frente.
O clima de crise ficou evidente logo após o final da primeira
reunião com um grupo de ministros de 30 países na manhã
de ontem. O diretor-geral da
OMC, o francês Pascal Lamy,
alertou que se não houver uma
mudança radical "nas próximas
horas ou dias, estaremos numa
crise". Para ele, sem uma sinalização de propostas firmes na
área agrícola, não há como
avançar em outros pontos.
Crise
O negociador brasileiro, o
chanceler Celso Amorim, lamentou o impasse e, apesar de
defender que ainda há esperança em conseguir algum avanço
com os EUA, admitiu o risco de
a rodada fracassar. "Estamos
nos aproximando muito rapidamente de uma crise", disse.
Ele ressaltou ainda que, algumas vezes, as crises fazem com
que difíceis decisões políticas
sejam tomadas. "Não será a primeira vez", afirmou.
Uma oferta maior dos EUA é
considerada o fiel da balança e
o que poderá evitar um fiasco
dessa negociação em Genebra
em torno da pauta de propostas
assinada em 2001.
Isso porque a União Européia já admite rever sua proposta feita no ano passado de
reduzir suas tarifas de importação de produtos agrícolas, em
média, em 51%, como pede o G-20 (o grupo de países em desenvolvimento que exportam
muitos produtos agrícolas). Até
então, eles só aceitavam uma
diminuição de 39%.
No entanto, será preciso que
os Estados Unidos cortem significativamente os subsídios
agrícolas dados aos agricultores norte-americanos. Atualmente, os EUA podem conceder subsídios até o montante de
US$ 48 bilhões por ano. Nas negociações em 2005, entretanto,
ficou acertado que esse valor ficaria limitado a cerca de US$
20 bilhões.
Há, porém, sutilezas na definição dos programas que comporão esse limite que, na prática, darão margem à concessão
de subsídios em áreas que hoje
não são contempladas pelo governo dos EUA. Além disso, os
países em desenvolvimento e a
UE exigem que os norte-americanos diminuam para US$ 12
bilhões o total de subsídios,
ainda considerado elevado.
O presidente George W.
Bush, que conversou recentemente com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e teria se
mostrado favorável a um avanço nessa área, é o maior empecilho. Segundo uma fonte que
participa das reuniões em Genebra, a negociadora Susan
Schwab (chefe do USTR, o ministério do comércio exterior
dos Estados Unidos), recebeu
orientações da Casa Branca para não "flexibilizar em absolutamente nada".
Numa reunião preliminar na
noite de quinta-feira e durante
os debates de ontem, Schwab
não teria sequer aceitado sugerir, numa simulação, qual seria
a oferta dos EUA se a UE cortasse ainda mais suas tarifas de
importação, se aproximando
do percentual de 66% que os
americanos exigem. Provocada
por Peter Mandelson, o comissário europeu, ela disse que "isso não fazia sentido".
Do outro lado, insistiu que a
UE colocasse na mesa detalhes
do que pretende fazer com os
produtos que deverão ter tratamento especial ou integrar
uma lista de exceção às regras
que deveriam ser acertadas.
Não teve resposta.
Já o secretário de Agricultura
dos EUA, Mike Johanns, disse
que o país já propôs uma redução significativa dos subsídios e
disse que a proposta do G20 para corte das tarifas de importação da UE é insuficiente para a
rodada de Doha avançar.
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