São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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ECONOMIA EM TRANSE

Governo diz ter aval dos EUA para acordo; Casa Branca não confirma; dólar subiu 50% no ano

Mercado não vê fundo do poço para o real; conversa sai do zero, diz FMI

FABRICIO VIEIRA
ANA PAULA RAGAZZI

DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado já não consegue enxergar o fundo do poço, à espera de algum sinal de que um grande volume de empréstimos do Fundo Monetário Internacional e de outras instituições seja anunciado e ponha fim pelo menos ao pânico que se seguiu à secura de dólares no mercado, devido à falta de crédito do país. No ano, o dólar já subiu 49,96%.
Apesar de o governo brasileiro dizer que o governo americano teria dado aval a um novo pacote de recursos do FMI, o próprio Fundo por ora diz apenas que as negociações começam do zero. O governo americano não confirmou as conversas com o Brasil.
"Mas, mesmo se o FMI liberar a ajuda financeira esperada, não vejo como o dólar venha a ser negociado abaixo dos R$ 3. A moeda já está em outro patamar, acima do que verificávamos há algumas semanas", afirma Fernando Coelho, analista da ABM Consulting.

BC mais agressivo
O dólar alcançou os R$ 3,61 ontem. Apesar de ceder com as intervenções do Banco Central, a moeda dos EUA fechou com alta de 5,15%, vendida a R$ 3,47 no fim dos negócios.
Nem mesmo a maior agressividade do BC parece capaz de conter o dólar. Ontem, o BC colocou no mercado pelo menos US$ 250 milhões, segundo operadores, e não evitou que a moeda batesse o oitavo recorde consecutivo.
Somente em julho, o BC já torrou mais de US$ 1 bilhão e não conseguiu deter a alta dólar. No mês, a valorização da moeda dos EUA foi de 23%.
Em um mercado em que se tornou complicado fechar negócios, pois ninguém está disposto a vender dólares, qualquer demanda um pouco mais forte causa um grande estrago nas cotações.
A maior dificuldade para rolar vencimentos de dívidas privadas, devido ao fechamento das linhas de crédito no mercado externo, tem feito as empresas buscarem com maior voracidade dólares para quitar esses débitos. Além disso, muitas empresas estão tentando pagar suas dívidas com antecipação, em busca de descontos, e têm de comprar dólares.
"A secura de linhas externas é um fato novo no governo FHC, que passa por seu pior momento", afirma Maurício Zanella, do Lloyds TSB. Na contramão, o risco-país caiu 3,5%, para 2.307 pontos. Segundo operadores do mercado, o BC comprou papéis da dívida brasileira, principalmente os C-Bonds, que subiram 3,5%, o que fez o risco-país recuar.

Dificuldades
O mercado está tão perdido que fechar um pequeno negócio se tornou complicado e muito mais demorado. Diretores de corretoras de câmbio contam que um negócio de US$ 500 mil para uma pequena empresa, por exemplo, que era fechado em menos de dois minutos, chegava a levar mais de meia hora ontem.
Enquanto o corretor passava a cotação para o cliente, o banco já havia aumentado o preço do dólar, o que fazia a negociação ter de começar de novo.
Segundo o diretor de Política Monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo, amanhã serão recomprados US$ 300 milhões referentes a uma linha externa vendida há algumas semanas.
Ontem, o BC fez uma venda direta de US$ 200 milhões e vendeu mais US$ 100 milhões por meio de uma linha externa com vencimento em novembro. Além disso, fez sua venda diária de US$ 50 milhões, como havia sido programado anteriormente.


(Colaborou Ney Hayashi, da Sucursal de Brasília)


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