São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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CRESCIMENTO REMENDADO

Na disputa por espaço no embarque, empresas reservam cargueiros a mais para atender pedidos

Exportador cria "overbooking" em navios

Jorge Araújo/Folha Imagem
Porto de Santos tomado por contêineres; com o crescimento das exportações, houve aumento da procura pelo transporte marítimo


DA REPORTAGEM LOCAL E

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por trás do vigoroso movimento do comércio exterior brasileiro há uma teia de problemas e de soluções caseiras, pequenas artimanhas e manobras que garantem o embarque e o desembarque de mercadorias nos portos do país.
A disputa por um lugar no cais assemelha-se à que ocorre nos aeroportos durante o verão, em épocas de economia aquecida. Como faltam navios e contêineres para atender a forte demanda dos exportadores, cresce a prática do "overbooking" e a rolagem de cargas nos portos brasileiros.
O "overbooking" ocorre porque os exportadores, temendo não conseguir despachar suas mercadorias, fazem reserva de espaço com dois armadores. Mas embarcam a carga no navio que chegar primeiro e cancelam o segundo na última hora.
Sabendo desse artifício, os armadores passaram a oferecer mais vagas do que têm. É comum acontecer de navios que informam dispor de vagas para 500 contêineres, por exemplo, ao atracar só contam com 400 lugares, na verdade. Os contêineres que ficam de fora, nesse caso, são "rolados" para a semana seguinte, quando outra embarcação que faz a mesma rota irá atracar.
"A rolagem já atinge 30% a 40% das cargas movimentadas na maioria dos portos brasileiros", diz Mauro Salgado, vice-presidente executivo da Libra, que administra um dos maiores terminais de contêineres do porto de Santos. O normal, segundo ele, é ocorrer uma rolagem de 5% das cargas.
Um levantamento realizado pela Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) constatou que as empresas exportadoras têm esperado por até dois meses para obter espaço em um navio.
Também foi verificado o freqüente cancelamento da vinda de embarcações e a rolagem de embarques por até seis navios. A consulta foi feita entre maio e junho com os 131 sindicatos filiados e as 41 diretorias regionais.

Custos
Além das caneladas para conseguir singrar os mares, os exportadores também estão tendo de arcar com custos adicionais, decorrentes da "importação" de contêineres vazios, segundo Fabrízio Pierdomênico, diretor comercial e de desenvolvimento do porto de Santos.
Os administradores dos terminais calculam que entre 25% e 30% dos contêineres movimentados no porto paulista sejam recipientes que chegam vazios de outros países para serem "estufados" (preenchidos com cargas para exportação).
No ano passado, o percentual de contêineres vazios movimentados em Santos foi de apenas 12%. "Isso é conseqüência do desbalanceamento entre exportações e importações", diz Salgado.
Enquanto as exportações brasileiras totalizaram US$ 43,3 bilhões no primeiro semestre de 2004, as importações somaram US$ 28,2 bilhões. Se o desequilíbrio favorece o saldo da balança comercial do país, para quem cuida da logística dos exportadores é um problema: os contêineres com mercadorias vão e não voltam para o Brasil.
Os armadores precisam repatriar os recipientes vazios, operação que custa entre US$ 600 e US$ 800, segundo Luiz Antonio Fayet, consultor da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). "Isso ajuda a encarecer o frete naval", observa Eduardo Mangabeira, presidente da Cotia Trading.
Só no primeiro semestre deste ano o frete marítimo ficou em média 20% mais caro, em dólares, para os exportadores brasileiros, de acordo com a pesquisa da Fiesp/Ciesp. E não há sinais de melhora na linha do horizonte.
A atual crise de escassez de navios e de contêineres é mundial e não se resolve no curto prazo, segundo Pierdomênico. No Brasil, o quadro tende a piorar se forem confirmadas as projeções de forte aumento de demanda.
Segundo a consultoria internacional Drewry Maritime, o país deverá movimentar 3,2 milhões de contêineres neste ano, 22% a mais do que em 2003. Para 2010, a projeção é de 5,4 milhões de contêineres transitando pelos 37 portos brasileiros. (SANDRA BALBI e LUIS RENATO STRAUSS)

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