São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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CRESCIMENTO REMENDADO

Com aumento da demanda, indústria eletroeletrônica teme falta de insumos e antecipa pedidos

Empresa reforça estoque para evitar escassez

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fabricantes de TVs, celulares e computadores traçaram estratégias de emergência para tentar se antecipar ao risco de escassez de insumos, como o que ocorreu no setor automobilístico. Empresas mudaram a carteira de produtos e/ou começaram a elevar um pouco o estoque para evitar gargalos.
A Folha levantou exemplos que mostram movimentos nesse sentido. Não há tubos de monitores de 15 polegadas disponíveis no mercado há meses, e a situação não dá sinais de que possa se normalizar em breve. Duas soluções foram encontradas pelos compradores do produto: elevar os pedidos de monitores com telas de cristal líquido -mercadoria cara e para poucos- e reforçar a compra de monitores maiores, de 17 polegadas, nos últimos meses.
No ano passado, 3% das vendas de monitores no país foram com tela de cristal líquido. Os analistas da área, como os da consultoria IDC, esperam alta de 90% sobre esse resultado em 2004.
Os primeiros sinais de falta do monitor de 15 polegadas apareceram em dezembro de 2003, e a situação piorou durante 2004, explica Moisés Nunes, sócio-diretor da Waytec, que detém 31% do mercado de monitores de cristal líquido. "Se eu tivesse 30 mil unidades desse tubo hoje, venderia num piscar de olhos", diz ele.
Demanda elevada pela mercadoria no mundo, expansão da venda de computadores no país e a redução na produção do tubo -como parte da estratégia dos fabricantes de mudarem seu portfólio de produtos- acabaram contribuindo para esse cenário.
"As indústrias estão esbarrando em problemas e tendo de se replanejar. Não deve, porém, haver falta de mercadorias", diz César Rochel, gerente de economia da Abinee, entidade do setor eletrônico.

Por avião
A indústria de TVs volta a ter de driblar gargalos antigos neste ano. A Folha apurou que os fabricantes já cogitam a possibilidade de voltar a trazer componentes importados por via aérea a partir de outubro. Isso para ter insumos nos galpões e atender os pedidos para o Natal. A entrada desse insumo no país é feita por navios -econômico, mas demorado.
O sinal amarelo disparou com a expansão da procura. O setor já fabricou e vendeu, no primeiro semestre, 3,5 milhões de TVs no país. Já se discute entre os empresários ligados à Eletros, associação de fabricantes, a possibilidade de o setor produzir 7 milhões neste ano. Se atingir a marca, será o terceiro melhor desempenho do setor. Em 1996, foram 8,5 milhões; no ano seguinte, 7,8 milhões. "Esperávamos crescer de 10% a 15% neste ano. Mas já trabalhamos com a hipótese de alta de 25% a 30%", diz Luís Freitas, diretor de vendas da Semp Toshiba.
Há uma outra solução colocada em prática: elevar ligeiramente os estoques de insumos importados. É uma medida de proteção. O Brasil não é um comprador de grandes volumes nos mercados internacionais, e o problema é que ocorre hoje uma expansão forte na demanda mundial. Nessa situação, a tendência é que os fornecedores globais atendam, em primeiro lugar, os seus grandes mercados compradores. "Para as empresas, resta comprar antes e formar um estoque", conta Carlos Mello, diretor de vendas em celulares da LG. "Já garantimos nossa compra para o quarto trimestre."


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