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ANÁLISE
EUA não devem superestimar a China
DAVID PILLING
DO "FINANCIAL TIMES"
Que diferença faz um "e". O
diálogo econômico estratégico
Estados Unidos-China, um encontro bilateral semestral sob o
presidente Obama, converteu-se no mais amplo diálogo econômico e estratégico. A adição
de uma conjunção converte a
palavra "estratégico" de um adjetivo que descreve o diálogo
econômico em um termo
abrangente, usado para descrever tudo o que Hillary Clinton
bem entender.
O Departamento de Estado
de Clinton se uniu ao Tesouro
de Tim Geithner no diálogo
com Pequim. Com isso a agenda foi ampliada para além daquilo que Hank Paulson, o predecessor de Geithner, concebeu originalmente em 2006.
Agora que o Departamento de
Estado passou a participar, as
mudanças climáticas, a Coreia
do Norte e outras questões de
peso global se somaram aos déficits dos EUA, à reforma do setor financeiro e ao yuan como
potenciais temas de discussão.
Ampliar a pauta das conversações -a última rodada das
quais foi encerrada em Wa-
shington nesta semana- faz
sentido. A política de Obama
para a China se ergue sobre alicerces deixados por seu predecessor. Essa foi uma das poucas
coisas em que se avalia que o
predecessor de Obama tenha
acertado. Diferentemente de
Bush, ou de Bill Clinton antes
dele, o presidente Obama não
tem sido obrigado a retroceder
de uma hostilidade inicial em
relação à China para uma posição mais maleável.
Isso acontece em parte devido à sua convicção de que é
bom fazer gestos de aproximação. Se Obama pode falar com
Teerã ou Pyongyang, ele certamente pode manter um diálogo
cordial com Pequim. É também
porque ele tem pouca escolha.
A crise econômica fez o equilíbrio de poder pender em direção à China. Os EUA estão se
sentindo menos confiantes em
relação a seus alicerces econômicos e menos capazes que antes de pregar sermões a Pequim, especialmente em vista
do fato de seus próprios bancos, seguradoras e montadoras
de automóveis terem caído sob
controle do Estado.
É mais o caso de Pequim estar em posição de superioridade. O aparente controle financeiro da China sobre os EUA
ganhou destaque acentuado.
Pequim anda pregando sermões a Washington sobre a necessidade de proteger suas reservas de US$ 2 trilhões, a
maior parte dos quais em dólares americanos.
É inteiramente apropriado
que Washington dê a devida
atenção à China, a mais importante potência emergente desde os próprios EUA. Mas é possível também haver o perigo de
levar a China a sério demais. Ao
compensar o pouco caso anterior, as coisas poderiam pender
longe demais no sentido oposto. Apesar da euforia em torno
do G2 -o eixo China-EUA, que,
segundo avaliações apressadas,
seria o único fórum global significativo-, vale a pena fazer
uma pausa para rever os fatos.
Para começo de conversa,
longe de ser um sinal de força, o
acúmulo por parte de Pequim
de uma enorme reserva em divisas estrangeiras é efeito colateral de um modelo econômico
demasiado dependente das exportações. O enorme superávit
comercial é fruto de um yuan
subvalorizado que vem permitindo que outros países consumam bens chineses às custas da
própria população chinesa.
Ligação comprometedora
Pequim não pode vender as
reservas de seu Tesouro sem
desencadear o próprio colapso
do dólar que supostamente teme. Tampouco são inteiramente convincentes os alertas para
que os EUA cubram seus déficits gêmeos -coisa que, inevitavelmente, levaria o país a
comprar menos produtos chineses. Em lugar de expor a superioridade do modelo chinês
controlado pelo Estado, a crise
financeira global deixou a nu o
envolvimento comprometedor
dos EUA e da China.
Os comentaristas às vezes
também confundem o progresso rápido da China e sua provável emergência como superpotência com a realidade atual.
Hoje, a China ainda é um país
relativamente pobre.
Apesar de suas ambições militares, está a décadas de distância de se equiparar com os
EUA. Em 2005, segundo o Instituto Internacional Estocolmo
de Pesquisas sobre a Paz, a China foi responsável por apenas
4% dos gastos militares globais,
um pouco menos que o Reino
Unido e a França e muito distante dos EUA, com 46%.
É verdade que o poderio norte-americano foi humilhado no
Iraque e no Afeganistão.
Mas a China nem sequer tentou projetar seu poder sobre
países como a Coreia do Norte,
que se aproximou do status nuclear aos poucos, diante dos
olhos de Pequim.
A economia da China está
sendo mantida em atividade
pela concessão forçada de crédito pelos bancos, algo que pode levar a bolhas nos preços de
ativos financeiros ou a uma safra de empréstimos podres.
Nada disso, porém, sugere
que os EUA estejam equivocados em dialogar com a China
nos níveis mais altos e profundos. A emergência da China como grande potência não requer
menos que isso. Mas, ao guardar silêncio sobre os direitos
humanos e o yuan, os EUA podem estar se vendendo barato.
Tradução de CLARA ALLAIN
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