São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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Governo se "apropria" da renda com mais impostos, diz empresariado

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento de 5,7% do PIB no segundo trimestre deste ano sobre igual período de 2003 é prova de que a economia de fato reagiu, na avaliação de empresários. Mas quem ganhou mesmo no período foi o governo, na análise do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"Enquanto o PIB cresceu 5,7%, a arrecadação de impostos sobre produtos e serviços aumentou 9,1%. Isso mostra que quem está se apropriando da renda do país é o governo, por meio de uma carga tributária maior", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
A arrecadação de impostos sobre produtos e serviços está entre os cinco setores de atividade que apresentaram melhor performance no segundo trimestre na comparação com igual período de 2003. As exportações aparecem em primeiro lugar, com alta de 16,5%. Depois seguem importações (14,1%), investimentos (11,7%) e comércio (9,9%).
O dinamismo da economia deixou de se apoiar nas exportações. No primeiro trimestre, cerca de 55% do crescimento de 2,7% do PIB deveu-se às exportações. No segundo trimestre, esse percentual caiu para 15,4%. "No primeiro trimestre, a exportação carregou a cruz. No segundo trimestre, o mercado interno reagiu", diz.
Nos cálculos do diretor, a agricultura, que contribuiu com 29,4% do crescimento do PIB no primeiro trimestre, passou para 11,4% no segundo trimestre. A indústria elevou sua contribuição de 44% para 47,7%, e os serviços, de 27,4% para 48,5%.
Os empresários torcem agora para que o fôlego da economia passe para a terceira fase: a volta dos investimentos. A formação bruta de capital fixo representa hoje cerca de 17% do PIB. Para os empresários, esse percentual teria de estar ao redor de 30%, como nos países emergentes.
Newton Mello, presidente da Abimaq, informa que o consumo de máquinas reagiu: cresceu 13,2% no primeiro semestre deste ano sobre igual período de 2003. Hoje, as fábricas têm encomendas para três meses de produção, para atender sobretudo aos setores agrícola, plástico e metalúrgico.
"Nos piores meses, os pedidos não passavam de um mês. Sentimos que o crescimento da economia neste ano é sustentado. Mas algumas indústrias, como petroquímica, têxtil e mecânica pesada, ainda continuam devagar. Elas também precisam investir", diz.
Para Paulo Godoy, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de base, "é preciso agora que o país deslanche investimentos em infra-estrutura para que o apagão logístico não emperre o crescimento do país", diz.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) reviu sua projeção de expansão da economia neste ano, de 4% para 4,5%. Mas o presidente da entidade, Armando Monteiro Neto, fez um alerta.
"Os números exibem uma economia em processo de expansão. Medidas como a desoneração dos impostos incidentes sobre os bens de capital e a redução do custo de capital são condições básicas para atrair o investimento e garantir a continuidade do crescimento."

Preocupação com juros
Outra preocupação dos empresários é com uma possível elevação das taxas de juros para conter focos de inflação. "É preciso combater a inflação, mas com mais oferta de produtos", diz Godoy.
Essa também é uma preocupação das centrais sindicais. "A alta dos juros pode ameaçar o processo de crescimento", afirmou o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho. "O país precisa investir em portos, rodovias. Caso contrário, terá de discutir em breve medidas para frear a economia", diz João Carlos Gonçalves, presidente interino da Força Sindical.


Colaborou Claudia Rolli, da Reportagem Local


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